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Julio Gomes

Argentina: risco real de naufrágio. Espanha "ganha" o sorteio

Julio Gomes

02/12/2017 04h00

Quatro anos atrás, em uma mesa da sala de conferências na Costa do Sauípe, onde foi realizado o sorteio para a Copa do Mundo do Brasil, eu escrevi um post com o seguinte título: "Espanha: risco real de naufrágio. Argentina 'ganha' o sorteio". Para ler e lembrar, basta clicar aqui.

Acabaria sendo profético. O sorteio ruim empurrou a Espanha para uma eliminação prematura na primeira fase, e a Argentina, que teve mais sorte, chegaria até a final, no Maracanã.

Curiosamente, quatro anos depois aconteceu exatamente o inverso. E não perdi tempo, usando o mesmíssimo título daquela de 2013 para a postagem de hoje – apenas, claro, trocando os países.

Desta vez, a Espanha é quem mais tem razões para comemorar o sorteio dos grupos, realizados na sexta-feira, em Moscou. E a Argentina, entre as potências do futebol mundial, é quem tem mais a lamentar. E é quem mais corre riscos de eliminação logo de cara.

Claro, não há sorte e azar se as seleções não forem boas. E a Espanha, hoje comandada por Julen Lopetegui, parece ter superado as más campanhas na Copa-2014 e Euro-2016. É uma seleção que conseguiu se renovar e reencontrar uma forma de jogar. Tem um sistema defensivo sólido, baseado nos veteranos Sergio Ramos, Piqué e Busquets, e gera jogo ofensivo de qualidade com jogadores como Thiago, Isco, Asensio e Morata.

A Argentina é o outro lado da moeda. É uma seleção que parece ter vivido sua grande chance em 2014, naquela final contra a Alemanha. Depois, vieram as derrotas nos pênaltis para o Chile nas duas Copas América, as mudanças de técnico, o drama nas eliminatórias. Jorge Sampaoli não conseguiu fazer o time jogar de acordo com suas ideias, e não há muito tempo e jogos para que consiga. É um grande técnico. Mas que talvez não seja capaz de resolver os graves problemas da albiceleste.

A Argentina está no grupo D, com Islândia, Croácia e Nigéria. É um grupo muito complicado, qualquer uma dessas seleções pode passar. Sério, Julio? Sério. Seríssimo.

Sou fã do futebol da Croácia, é uma seleção que ainda não mostrou, em uma Copa ou Euro, todo o potencial da geração de Modric, Rakitic, Perisic, Mandzukic, etc. Uma seleção que pode ganhar de qualquer outra se estiver em seu dia.

E que foi relegada a jogar a repescagem nas eliminatórias europeias, vejam só, pela Islândia. A seleção que foi a "Cinderela" na Euro-2016, sua primeira grande competição, eliminando a Inglaterra nas oitavas de final e só caindo nas quartas para a anfitriã França. A Islândia provou que o que aconteceu no ano passado não foi por acaso, garantindo vaga direta para jogar a primeira Copa do Mundo de sua história. A Islândia é tão boa quanto qualquer seleção média europeia, muito organizada e corajosa em campo.

E a Nigéria, comandada pelo incansável Obi Mikel, por Iwobi e Iheanacho, jogadores de nível de Premier League, é a mais camisa mais forte entre as seleções africanas na Copa. Na última data Fifa, em 14 de novembro, meteu 4 a 2 na Argentina em amistoso. Classificou-se no grupo da morte das eliminatórias africanas, que tinha Camarões e Argélia.

A Argentina pode ganhar de Islândia, Nigéria e Croácia? Pode. Sim, claro que pode. Como pode não ganhar um jogo sequer neste grupo e ser eliminada na primeira fase. Não seria nenhum absurdo, pelo que a seleção de Messi apresentou no último ano e meio.

Já a Espanha, no grupo B, vai enfrentar Portugal na estreia e, depois, Marrocos e Irã. O grupo é uma baba. Há outras seleções fortes que caíram em grupos tranquilos, como França e Bélgica. Mas elas não têm o cruzamento dos sonhos que a Espanha tem.

Classificando-se, a Espanha enfrentará nas oitavas alguma seleção do grupo A (Rússia, Uruguai, Egito e Arábia Saudita). Ou seja, é o melhor cenário possível, é um cruzamento contra o grupo mais fraco. Mesmo que os espanhóis se enrolem e fiquem atrás de Portugal (o que eu duvido), ela não enfrentará nenhum bicho papão nas oitavas. OK, o Uruguai precisa ser respeitado. A Rússia é a dona da casa. Mas a Espanha tem um time consideravelmente melhor que ambos.

Se ficar em primeira no grupo e passando das oitavas contra Rússia ou Uruguai, a Espanha teria nas quartas de final possivelmente o primeiro colocado do grupo D que, como vimos acima, pode muito bem nem ser a Argentina. A Alemanha só apareceria no caminho na semifinal e, o Brasil ou a França, só em uma eventual decisão.

Quer mais? Então ouve essa.

Cair no grupo B foi perfeito para a logística espanhola. A Roja ficará baseada em Krasnodar, uma cidade no sul da Rússia, a meros 270 km de Sochi.

Em Sochi, a sede mais próxima, será o jogo de estreia contra Portugal. Depois, jogos em Moscou e Saransk. Mas, ficando em primeira, a Espanha volta a jogar em Moscou nas oitavas, Sochi nas quartas e Moscou nas semis e na final. Ou seja, uma logística de viagens para lá de tranquila, sempre podendo ir e vir da capital e ficar em sua base durante o Mundial. E sem grandes contrastes climáticos.

Não à toa, o Brasil, que estará hospedado em Sochi, sonhava em ser sorteado para cair no grupo B.

A Espanha tem um ótimo time, que vive momento de alta confiança, grupo fácil, cruzamentos fáceis, boa logística de viagens e nenhum bicho papão pelo caminho até a semifinal.

Ninguém pode comemorar mais o resultado do sorteio.

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.