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Gabriel Jesus brilha de novo e supera início de outros badalados

Julio Gomes

05/02/2017 14h36

A estrela de Gabriel Jesus não para de brilhar. Neste domingo, o brasileiro deu a vitória ao Manchester City sobre o Swansea com um gol aos 47 minutos do segundo tempo.

Gabriel já havia feito o primeiro gol e dado passe de calcanhar para David Silva quase marcar, mas o fraco Swansea empatou e parecia que o City tropeçaria de novo. Guardiola colocou Aguero em campo aos 38min da etapa final, logo após sofrer o gol. Foi a segunda vez com Gabriel e Aguero juntos em campo. O argentino, desbancado de sua posição no comando do ataque, iniciou o lance que culminou no gol da vitória.

Está com pinta de que Sterling vai rodar, e Guardiola usará mais vezes a formação com Gabriel Jesus no ataque e Aguero pela direita.

Depois dos ótimos 8 minutos na estreia contra o Tottenham, quando fez um gol anulado e levou perigo em dois lances, Gabriel Jesus foi titular em três jogos seguidos. Deu assistência nos 3 a 0 sobre o Crystal Palace, pela Copa da Inglaterra, fez um gol e deu outra assistência nos 4 a 0 sobre o West Ham. E, agora, mete dois no jogo apertado contra o Swansea.

Se no início ele fazia aquela cara de choro a cada feito, agora já mostra sorrisos e confiança. Nada como um craque começar sua vida no futebol de mais alto nível deste jeito. Fazendo gols e eliminando as interrogações que pairavam sobre ele. Gabriel é um grande jogador, e que não só ele, mas todos a sua volta, saibam disso, é fundamental.

O impacto de Gabriel Jesus é imediato. Ele está se entrosando rapidamente com David Silva e De Bruyne, os jogadores que devem municiá-lo. Faz bem o pivô, se movimenta bem pelos lados, abre espaços, não se intimida com o jogo mais físico da Inglaterra e subiu o nível do City.

Já 10 pontos atrás do imparável Chelsea, as chances de o City retomar o título inglês são remotíssimas. Mas vem Champions League por aí, com o confronto complicado contra o Monaco nas oitavas de final. O time de Guardiola ganha novo status com os gols trazidos por Gabriel.

O grande PVC comparou a chegada dele ao impacto trazido por Kaká ao Milan em 2003. Para mim, lembra mais a chegada de Pato ao mesmo Milan, estreando no meio da temporada 2007/2008. Assim como Gabriel Jesus, entra no time no meio do campeonato, vira titular imediatamente e faz três gols nos quatro primeiros jogos.

Pato tinha 18 anos quando estreou pelo Milan. Gabriel Jesus tem 19. Kaká tinha 21 quando estreou na Europa, assim como Robinho e Neymar.

Os ex-santistas também viraram titulares rapidamente em Barcelona e Real Madrid, respectivamente. Trouxeram empolgação aos torcedores, mas não necessariamente os gols que Gabriel e Pato entregaram de cara. Talvez Neymar, por chegar a um time já com Messi, tenha sido, entre os atacantes, o que menos tenha chegado com a responsabilidade de "salvador da pátria".

Em comum a Kaká, Robinho, Pato e Neymar: nenhum deles conseguiu levar seu clube às finais da Champions League em suas temporadas de estreia. Kaká foi o único a levantar um troféu – o título italiano de 2003/2004 para o Milan.

Tive a felicidade de cobrir as estreias de Robinho e Pato, na época era correspondente da Band. Foi um frenesi danado. Só se falava neles, eram capas e capas de jornal – e um trabalho danado do meu lado, para conseguir entrevistá-los, mesmo que rapidamente. Experiência inesquecível, de ir a porta de hotel, plantões sem ter a certeza de que o objetivo seria alcançado, dezenas de gravações com torcedores empolgadíssimos. Eu mesmo virei "objeto" de reportagens, como jornalista brasileiro que poderia falar mais sobre aqueles meninos. Mesmo à distância, consigo ver as semelhanças. A história se repete, só que em outra cidade, outro país.

O início de Gabriel Jesus no City é melhor e ainda mais promissor do que o dos outros brasileiros badalados dos últimos 15 anos. Qual será o fim? Kaká virou melhor do mundo, Neymar ganhou tudo no Barça, Robinho conquistou títulos, mas nunca teve o tamanho que se imaginava. E Pato, que fez tanto barulho quanto Gabriel de cara, não virou muita coisa.

A empolgação é lícita, sem dúvida! Mas é sempre bom ter cautela.

Relembre o início dos outros quatro jogadores badalados nos últimos anos.

Neymar: 

Realizou quatro jogos de pré-temporada, fazendo dois gols. Estreia oficialmente em 18/8/2013, após a campanha de sucesso da seleção brasileira de Scolari na Copa das Confederações. Entra aos 19min do segundo tempo em jogo que o Barça venceu por 7 a 0 sobre o Levante. Não fez gols, ganhou um amarelo no finalzinho. O ataque do time foi formado por Messi, Pedro e Alexis Sanchez.

No segundo jogo, disputa da Supercopa da Espanha contra o Atlético de Madri, entrou aos 14min do segundo tempo e, sete minutos depois, fez o primeiro gol oficial no Barça. O jogo acabou empatado em 1 a 1, e o gol seria definitivo para dar o título da Supercopa ao Barça.

Ainda seria reserva no terceiro jogo. A partir daí, ganharia a posição de titular, relegando Pedro ao banco. Mas só foi marcar o segundo gol um mês e seis partidas (sempre como titular) depois daquele marcado no Calderón.

A primeira temporada de Neymar acabou com 15 gols em 41 jogos. O Barcelona acabou sem títulos – na temporada seguinte, no entanto, ganharia tudo.

Alexandre Pato:

Pato chega ao Milan no meio de 2007 e marca logo na estreia, em amistoso do time campeão europeu contra o Dynamo de Kiev. Só que ele só poderia fazer sua estreia oficial na reabertura do mercado de negociações, com 18 anos completos. Isso aconteceu em janeiro de 2008, após seis meses treinando no clube.

Assim como Gabriel Jesus, Pato chegou trazendo impacto imediato. Logo na estreia oficial, marcou na vitória de 5 a 2 sobre o Napoli. Titular do ataque até o fim daquela temporada, fez três gols nos primeiros quatro jogos. Sua primeira temporada acabou com 9 gols em 21 jogos, sem títulos. O Milan nunca mais voltou a ser o que era nos 10 últimos anos. Pato tampouco.

Robinho:

Assim como Neymar, chega "tarde", após a Copa das Confederações de 2005 com a seleção brasileira. O Real Madrid estreia na temporada em Cádiz, no dia 28/8/05, e Luxemburgo coloca Robinho em campo aos 20min do segundo tempo, no lugar do volante Gravesen. Robinho brilha, com direito a chapéu, põe fogo no jogo, e o Real faz o gol da vitória com Raúl no finalzinho.

Já no segundo jogo, Luxemburgo coloca Raúl no banco, e Robinho vira titular. No quarto jogo com a titularidade, o quinto no Real, Robinho faz seu primeiro gol, contra o Athletic Bilbao. A primeira temporada de Robinho foi tumultuada, no entanto, com vários treinadores, presidente renunciando e o Barcelona ganhando Liga e Champions.

Robinho acabou a primeira temporada com 12 gols em 51 jogos. Seria campeão espanhol nos dois anos seguintes, antes de ir para o Manchester City e perder holofotes na Europa.

Kaká:

Chega ao Milan para ser reserva, mas desbanca Rui Costa e vira titular absoluto do time que havia sido campeão da Europa em 2003, comandado por Carlo Ancelotti. Estreia em 1/9/2003 na vitória por 2 a 0 sobre o Ancona, dando passe para gol. No sexto jogo consecutivo como titular, faz seu primeiro gol: justamente no clássico contra a Inter de Milão, vencido pelo Milan por 3 a 1.

Kaká fez 14 gols em 45 jogos na primeira temporada pelo Milan. O clube foi campeão da Série A italiana, mas ficou fora das semis da Champions, sem conseguir defender o título, e perdeu o Mundial Interclubes para o Boca Juniors nos pênaltis. Kaká levaria o Milan à final europeia em 2005, perdendo nos pênaltis para o Liverpool, mas conquistaria, finalmente, a Champions em 2007 – foi seu auge, quando acabaria eleito melhor do mundo.

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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