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Se Tite barrar Neymar na Copa América, será besta ou bestial?

Julio Gomes

01/05/2019 04h30

Só há uma indicação de que Tite possa barrar Neymar na Copa América que se avizinha: o fato de já ter barrado Douglas Costa por indisciplina. OK, dá para ampliar um pouquinho, já que Tite adota um discurso de paz, fair play e do "fazer as coisas certas" desde sempre, o que torna o cenário ruim para o jogador do PSG.

Situações diferentes, lógico. Neymar não é Douglas Costa. E a Copa América não é um amistoso.

Tite está com a cabeça a prêmio, ainda que ninguém confirme. A fase não é boa após a Copa-2018. Se, antes, tudo o que ele falava ou fazia parecia a coisa certa, agora, pelo contrário, parece que nada tem sentido. E as palavras voam, sobram, aborrecem, cansam.

Resultadistas como somos, é óbvio que a Copa América pode significar tudo ou nada para Tite na seleção. Não importaria se fosse uma Copa América difícil, como foi a de 2011, por exemplo, ou mesmo a do Centenário. Diga-se, não é o caso. A Copa América está uma baba para o Brasil, que jogará em casa, vê os rivais mais tradicionais em transição ou mesmo sem rumo, tipo a Argentina.

Com Neymar, lógico, as chances são maiores.

Um treinador com a cabeça a prêmio prescindiria de seu melhor jogador? Seria uma "besta", certo? É o que pensam muitos. Eu mesmo acredito que Tite não abrirá mão de Neymar. Vai falar bonito, vai dar algum castigo, tipo tirar a tarja de capitão, e simbora, corrente para frente, salve a seleção.

Mas e se Tite abrisse mão de Neymar?

O ponto negativo é óbvio: um time mais fraco.

Mas será que não há pontos positivos?

1- O Brasil pode ser campeão sem Neymar. Como já disse, não é a Copa América mais complicada de se ganhar, e o fator casa conta.

2- A opinião pública, sempre dividida sobre Neymar e sua postura, parece ter escolhido um lado após o papelão do "garoto" na Rússia. Neymar já incomoda mais do que agrada. É claro que bastam dois gols, alguns lances de efeito e uma reportagem carinhosa na TV para essa mesma opinião pública colocá-lo de novo no patamar em que nunca esteve, ao lado de Messi e Cristiano Ronaldo. Mas, se não jogar, não tem como agradar, certo?

3- O caso específico do soco no rosto do torcedor pegou muito mal para Neymar, dificilmente Tite seria criticado por barrá-lo. Não há muita margem de defesa para Neymar após a agressão.

4- Se perder a Copa América, Tite tem um álibi. Escolheu tomar a decisão disciplinar, e não o resultado a qualquer preço, e acabou tendo que jogar sem seu maior talento. A culpa, pois, não é dele.

Se convocar Neymar, Tite ficará abraçado a esta "traição" dos princípios que prega. Ganha a Copa América e segue o jogo. Mas, se perde…

Se Tite pensar de forma estratégica, pode deixar Neymar de lado e, se for campeão, aumentar de tamanho. Se perder, talvez possa evitar uma indesejada demissão. Pode ser "bestial".

É a corda bamba dos técnicos. Não é uma decisão trivial, a de Tite. Barrar Neymar pode comprometer as chances da seleção, mas pode, também, recuperar o apoio perdido pelo treinador nos últimos meses.

 

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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