O idealismo de Guardiola é inimigo dos mata-matas
Julio Gomes
18/04/2019 05h39
Se falarmos de resultados, a carreira de Pep Guardiola é fácil de resumir. Um sucesso absoluto em competições domésticas de pontos corridos, dois europeus e mais alguns punhados de Copas.
Mas, se olharmos com a lupa, os resultados são intrigantes e despertam um debate que não é tão novo assim no futebol. Técnicos que são bons em pontos corridos e não em mata-mata – e vice versa.
Guardiola não simplesmente ganhou campeonatos. Ele ganhou campeonatos com recordes e MUITA sobra tanto na Espanha quanto na Alemanha ou na Inglaterra. O Barça dele, o Bayern dele, o City dele foram campeões com marcas nunca antes atingidas.
Eram elencos caros, os melhores do país e ganhariam título com "qualquer um"? É o que dizem os detratores. Eu não concordo, mas sim, sou capaz de relativizar. Os feitos com o Barça são os maiores, era um time em reconstrução, mas, claro, caiu um certo Messi no colo. No Bayern, provavelmente qualquer um seria campeão, mas não com meses de antecedência e nem rompendo um estilo alemão histórico. O City, é verdade, é um time montado a base de talão de cheques com fundos infinitos.
O que espanta é a sucessão de derrotas na Champions League. Depois de dois títulos europeus em quatro anos com o Barça – e as derrotas de 10 e 12 vieram para times jogando de forma horrorosa, com o ônibus estacionado, Guardiola nunca mais atingiu a final.
Nos três anos de Bayern, três quedas nas semifinais. Nos três anos de Manchester City, nem isso.
O Bayern caiu para Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid. Dá para discutir a eliminação para o Atlético, mas o Bayern não foi a única vítima surpreendente do clube desde a chegada de Simeone.
Já o City foi eliminado por Monaco (17), Liverpool (18) e, agora, Tottenham (19). Oras bolas. Não é necessário dizer que a diferença orçamentária e de elenco era brutal nas três situações. Falando português claro, Guardiola tinha em mãos um time melhor do que todos os seus concorrentes. E caiu nas três vezes.
Não dá para chamar isso de coincidência e nem acusar falhas individuais de jogadores.
Com um timaço em mãos, Guardiola mostrou-se capaz de determinar tendências nas Ligas, elevar times a um nível nunca visto. Mas, contra a parede, nos mata-matas, Guardiola talvez tenha ilusões demais, pragmatismo de menos. Talvez a mania de estressar os mínimos detalhes estresse também seus atletas. Talvez o perfeccionismo e o idealismo sejam inimigos deste tipo de jogo.
É este perfeccionismo que deve fazer Guardiola dar uma de professor Pardal e perder a ida para o Tottenham, mudando um sistema que vinha dando mais do que certo na Premier. Com a ideia de acertar tudo, às vezes trivial fica de lado.
Em Copas domésticas, o problema fica minimizado pela diferença técnica entre os times. Mas na Champions…
Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.