VAR errou feio no Morumbi: não pode chamar juiz para reinterpretar lances
Julio Gomes
30/03/2019 19h54
Eu acho incrivelmente simples o uso do VAR. E me espanta como tanta gente, especialmente colegas de profissão, que são os responsáveis por disseminar as informações, não consigam entendê-lo.
O VAR não é uma máquina. É um árbitro que usa o vídeo para auxiliar o árbitro de campo. Somente em alguns casos específicos (lance de gol, pênalti, etc). E somente para corrigir algum erro CRASSO. E isso a Fifa repete, repete, repete e repete, mas parece que não adianta. O VAR não chega para que o futebol seja reinterpretado através de replays em câmera lenta. O VAR chega para evitar erros grosseiros, em que o árbitro não tenha visto alguma coisa.
Não importa se foi ou não falta em Dudu no São Paulo 0 x 0 Palmeiras deste sábado. Estou aqui para apontar um erro gigante no uso do VAR.
O árbitro de campo viu perfeitamente o lance do ataque palmeirense e interpretou com carga faltosa em Dudu. Apitou pênalti. Ponto final.
O VAR não deve e não pode chamar o juiz para discutir lances interpretativos. Somente chama o árbitro pelo rádio para apontar algum erro "claro e evidente". Em erros claros e evidentes não entram lances de interpretação, como bem explicou Sandro Meira Ricci, que é, quer queira quer não, especialista no tema, durante a transmissão.
Vai ter gente que acha que foi falta em Dudu. Vai ter gente que acha que não foi falta. Eu, por exemplo, acho que não foi falta. Mas o juiz, na hora, achou que foi. E essa decisão é soberana.
Por que, segundo o protocolo, o VAR não deve chamar o árbitro de campo nesses casos? Porque ele está dando a chance ao árbitro de campo para repensar o lance, ESCOLHER a decisão que quer tomar e, o pior, fazê-lo usando câmera lenta, e não a velocidade real do lance.
No Brasil, os fins sempre justificam os meios. Então, se for para o juiz "acertar" (na opinião da maioria, ele acabou acertando ao "des-dar" o pênalti para o Palmeiras), vale tudo. Não, não vale tudo. O erro ou acerto do árbitro poderia ser discutido. Mas o protocolo do VAR é bastante objetivo.
No Brasil, está claro que o uso será bizarro, de acordo com o que quer cada árbitro. E, como eles são fracos, irão recorrer toda hora ao vídeo para "escolher" sua decisão com "calma", se é que vocês me entendem.
Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.