Início de Sampaoli coloca em xeque técnicos brasileiros
Julio Gomes
28/01/2019 04h00
Eu não acho Jorge Sampaoli um gênio. Na verdade, pelas atitudes, coletivas de imprensa, etc, parece ser um cara meio mala. Não sou um resultadista, portanto não dou o mesmo valor que tanta gente dá ao resultado final. "Ganhou, está bom. Perdeu, lixo".
O "ganhou o quê?" é uma pergunta desafiadora que eu simplesmente ignoro, já vou avisando.
Se o Santos fará uma ótima, boa, regular, má ou péssima temporada, só saberemos no fim do ano. Em função dos resultados e, principalmente, em função do desempenho.
O cara chegou há menos de um mês. O Santos perdeu seus melhores jogadores e não trouxe quase ninguém. Fez três jogos oficiais. E o time já tem uma cara, um jeito de ser, uma identidade.
Qual a identidade do Flamengo de Abelão? Só para usar um exemplo.
Por que treinadores brasileiros não têm ideia de jogo?
A resposta passa, sem dúvida, pelo resultadismo que marca nossa sociedade. Para torcedores, jornalistas, dirigentes, só importa se ganhou ou se perdeu. Não importa o como. Não importam os caminhos.
O caminho mais fácil de ser construído é o da destruição. Defesa firme, compacta, ajustada. Depois vemos como fazer para ganhar o jogo. Isso não é identidade, é apenas uma organização básica do jogo.
Se você é refém de resultados, a vida se transforma em uma busca por eles. Sem filosofia alguma, apenas com a prática necessária. Os técnicos brasileiros, quase todos, vivem nessa dinâmica.
Por isso um sujeito como Fernando Diniz é considerado um ET. E o mesmo acontecerá com Sampaoli. As rupturas incomodam. Então, podem estar certos que as críticas virão nas primeiras derrotas. É o que acontece com Diniz, é o que acontecerá com Sampaoli, é o que acontecia com Osorio e assim será com qualquer um que tente implementar uma impressão digital a um time.
Não estou falando que este conceito é melhor que outros. E nem falando que Sampaoli é melhor que todos os técnicos brasileiros. Apenas pontuando que existe um conceito, existe uma visão aplicada de futebol. E, dentro deste conceito, existe a busca por intensidade e organização, o que é um mérito.
Aqui nos acostumamos a ouvir que "não há tempo para nada" quando se trata de treinar times de futebol. É verdade que falta tempo. Mas não só tempo.
Sampaoli, com um grupo medíocre de jogadores, bastante abaixo dos outros três grandes de São Paulo, nos mostra que não é preciso tanto tempo assim para que um time jogue do jeito que um treinador quer.
O que falta por aqui é treinadores quererem algo mais do que o óbvio.
Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.