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Mourinho não merece mais pegar superpotência europeia

Julio Gomes

18/12/2018 09h15

José Mourinho foi mandado embora do Manchester United. Era o clube de seus sonhos, por ser um clube que mostrou, ao longo da história, ser capaz de dar tempo (e que tempo!) aos poucos treinadores que ocuparam o cargo.

Entre 1932 e 2013, portanto um período de 81 anos, só 11 homens ocuparam o cargo. Tem time brasileiro que tem 11 técnicos em dois ou três anos.

A era pós-Alex Ferguson seria necessariamente tumultuada, difícil. Moyes e Van Gaal que o digam. Mas Mourinho assumiu o United já três anos após a saída de Ferguson e com um orçamento gigante. Nestes dois anos e meio no cargo, apontou o dedo para o clube e como a estrutura havia ficado ultrapassada.

Não duvido. Mas esse é justamente um dos problemas de Mourinho: tratar os problemas em público, em vez de "ganhar" seus pares, chefes e subordinados invisíveis dentro das instituições.

O cara é um monstro dos nossos tempos. Ganhou Champions League com o Porto e com a Inter de Milão, o que não é pouca coisa e nenhum outro técnico conseguiu no futebol globalizado e multimilionário (ganhar sem ter uma superpotência em mãos). Por onde passou, seja Chelsea, Inter ou Real Madrid, foi o grande rival do melhor Barcelona da história (talvez melhor time da história), conseguindo até o feito de ganhar uma Liga doméstica contra aquele time de Guardiola, Messi, Xavi, Iniesta e cia.

Mas Mourinho implodiu o clima no Real Madrid, brigando com meio mundo. A volta ao Chelsea e o período de United, com duas demissões, mostram que lá, como cá, tem gente que fica parada no tempo.

Mourinho não era o técnico retranqueiro em que se transformou justamente por ser a nêmesis do Barcelona. O que era uma necessidade virou uma marca. O futebol de hoje mudou, e Mourinho não soube se adaptar a ele.

Não é um caso muito diferente de Luxemburgo. Os tempos mudam, a motivação muda, as relações humanas mudam. Os caras foram monstros, mas se manter como monstro por 20 anos? Não é para qualquer um. Desaprenderam sobre futebol? Claro que não. Mas é necessário rever conceitos que, muitas vezes, são inegociáveis para a pessoa. É mais fácil, concordo, criticar daqui, por trás de um teclado – mas é nossa função.

Sempre fui um fã de Mourinho, de sua competitividade e capacidade de encontrar soluções. Foram poucos os jogadores, ao longo dos tempos, que fizeram críticas a seu trabalho. Mas foram muitos nos últimos poucos anos. Algo mudou.

É com tristeza que digo: perdemos um grande.

Quem vai contratar Mourinho?

Real? Barça? PSG? Juventus? Bayern? Algum top inglês? Esqueçam… Mourinho não terá mais chances em um gigante nesta era de superpotências. E nem merece.

Talvez seja a hora de começar a pensar em alguma seleção. Talvez seja a chance de se reinventar, saindo dos holofotes do dia a dia, e ainda fazer algo grande na carreira. Ou então vir a algum clube do Brasil, país que ele tanto gosta! Receberemos de braços abertos (e microfones fervendo).

 

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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