Diário da Copa: a improvável conexão Rússia-Equador
Julio Gomes
03/07/2018 13h49
Maxim morou em Barcelona. Fala espanhol perfeito. Cidadão de Rostov on Don, caminhava pelas ruas de sua cidade quando percebeu uma família equatoriana com dificuldades.
O pai, Oscar, a mãe, Fátima, e a filha, Alejandra, uma adolescente com a camisa da seleção brasileira – os pais estava com camiseta e bandeira do Equador. A família fez o inverso da maioria. Enquanto grande parte dos torcedores vêm à Copa para acompanhar sua seleção na primeira fase, eles vieram para os jogos grandes.
Compraram ingressos para o jogo de Rostov porque achavam que a Colômbia aqui estaria. Erraram. O Japão que veio parar em Rostov para enfrentar a Bélgica (que jogo!). Mas não estavam nem aí! É uma viagem que extrapola o futebol.
Rostov é, possivelmente, a menos turística das cidades que eu visitei até agora – lá se vão 9 das 11 sedes, faltam apenas Nijny Novgorod e Sochi. Não tem muito o que ver por essas bonitas e bem cuidadas ruas, com ônibus um pouco decadentes – como os nossos.
Mas lá estavam os equatorianos vagando pelo centro, tentando se comunicar, comprar uma cerveja, se virar. E lá se foi Maxim, feliz da vida, ajudar. Ficaram juntos o dia todo. Maxim também tinha ingressos para o jogo e iria levá-los para o estádio quando fosse a hora da partida.
Enquanto isso, fotos e mais fotos e mais fotos. Essa é uma característica desta Copa. As pessoas adoram tirar fotos com os estrangeiros que estão visitando o país. Basta estar vestindo a camiseta de alguma seleção e logo chega a população local, velhos, novos, homens, mulheres, para tirar fotos.
Achavam que a família era de brasileiros, pela camisa e bandeira do Brasil que levava Alejandra. "Quando não está o Equador, sempre torcemos pelo Brasil", conta a mãe, Fátima. "Sofri tanto em 98, com aquela Copa que arrumaram para a França! Será que vão arrumar essa para a Rússia também?". Maxim sorri. Ele está tão feliz com a Rússia e por ajudar que não é uma provocadinha involuntária que irá incomodá-lo.
Viram, todos eles, um grande jogo de futebol entre Bélgica e Japão. Rostov se despede com estádio quase lotado e muitos gritos de "Rússia, Rússia, Rússia", já que belgas e japoneses eram poucos. O país pega fogo com a campanha da seleção nacional. Que bom!
Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.