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Diário da Copa: Havia uma ponte na noite branca

Julio Gomes

21/06/2018 11h03

Estão todos ali posicionados. Máquinas fotográficas e celulares nas mãos. Esperando. Não entendo nada. OK, alguns barcos estão passando. Mas não são nada demais. Não são nenhuma lindeza.

Tem muita gente ali. Algo vai acontecer. De repente, começa uma música clássica que parece emanar das paredes do museu Hermitage.

Enorme, imponente, maravilhoso, o Hermitage. Um dos mais fantásticos museus do mundo. O Louvre russo.

Tiro uma foto. Me preparo para continuar a caminhada de volta ao meu hotel. E quando vou cruzar a ponte… "niet". O guarda coloca um cavalete. Ninguém mais atravessa.

Agora eu entendi. A música, as fotos, toda aquela gente. A ponte começa a subir. Metade pra lá, metade pra cá. Os barcos passando. Coisa linda. Mas e agora, José? Como eu faço para cruzar pro lado de lá?

Vejo que uma outra ponte lá na frente tem carros passando. Chamo um táxi. O tempo para ele chegar ao destino combinado é o tempo daquela ponte fechar. E a outra. E a outra também.

Olho para o céu. Sempre olhamos para o céu nessas horas. Está claro. Não é como se fosse dia. Mas está claro, tipo crepúsculo. É 1 hora da manhã. Já começou o 21 de junho, Solstício de verão, o dia mais claro dos dias.

São Petersburgo não tem noite entre maio e julho. São as noites brancas. Eu já tinha ouvido falar, mas ver é outra história. É impactante. Tem gente sofrendo para dormir. Eu não tenho esse problema, deve ser o cansaço.

Dias sem noite. Isso me faz lembrar que, no inverno, as noites é que não têm dia. Deve ser horrível.

A ponte!

E agora? O taxista me explica que tem um jeito de chegar ao outro lado. Uma ponte lá longe. Uma volta desgraçada. E, claro, o dobro do preço. E tem mais: resolve logo, porque aquela ponte lá longe também vai subir logo logo.

Que horas as pontes abrem? 4 da manhã, algumas às 5. Me dei mal. Muito mal. Toca. Aqui no frio não vou ficar.

Chegamos ao hotel. Ufa. Pago, e o taxista, barba grande e ruiva, fala em inglês: "Good day. No. Good night". Sorrisinho maroto. Boa noite? Não. Aqui é mesmo sempre bom dia.

 

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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