Votação anti-VAR vai assombrar o Brasileiro do início ao fim
Julio Gomes
15/04/2018 04h00
Faz um pouquinho mais de dois meses. Foi no início de fevereiro que os 20 clubes da Série A decidiram não utilizar o recurso de vídeo para auxiliar as arbitragens no Brasileirão.
Bastou um sábado de futebol, menos da metade da primeira das 38 rodadas do campeonato, para que a decisão levasse um gigantesco tapa na cara. Erros de arbitragem acontecem toda hora. Interpretações diferentes sobre o mesmo lance, também. O pepino mesmo, e esse pepino é solucionado pelo VAR, são os lances claros, evidentes, não passíveis de discussão.
Como o pênalti dado para o Vitória contra o Flamengo, que resultou na expulsão injusta de Éverton Ribeiro, alterando toda a dinâmica do jogo. Ou como o segundo gol do Flamengo, em impedimento grosseiro.
Nem todo o jogo tem lances tão claros, tão evidentes, de erros de arbitragem. Aqueles sem nenhum "porém". Aqueles que, com o VAR, não existirão mais.
O Flamengo foi um dos que votaram a favor do VAR me fevereiro. O Vitória, contra.
Na semana passada, tivemos a final do Paulista e toda a polêmica do pênalti dado e "des-dado" para o Palmeiras, com a forte suspeita do VAR clandestino mudando a decisão do árbitro. Uma das coisas que mais li, ainda que o campeonato fosse outro. "O Palmeiras votou pelo VAR, o Corinthians votou contra". E daí?
Nas entrevistas pós-jogo no Barradão, o tema foi levantado. Nos programas de todos os canais de TV, idem. Mas e daí?
E daí que esta é a sombra que vai acompanhar o campeonato todo. Um verdadeiro fantasma.
Sempre que houver erro claro, a tal votação será lembrada. "Viram? O time X votou contra o VAR, agora aguenta". Ou então. "O time Y votou a favor do VAR, viram por quê? É sempre roubado!".
Preparem-se. Serão 38 rodadas e sete meses e meio de lembranças da maldita votação.
Não vou colocar a lista aqui de quem votou a favor, quem votou contra e quem se absteve. Sabem o motivo? Defendo que precisamos parar de olhar para o próprio umbigo. O futebol brasileiro precisa urgentemente passar a pensar no todo, não no pedaço.
Não interessa quem votou como. Foi uma decisão coletiva contra o VAR.
Uma decisão, é claro, induzida pela CBF. Que não larga o osso, não deixa a organização do campeonato para os clubes, mas não quer se responsabilizar pela arbitragem de vídeo. Jogou o preço lá em cima. sabendo que isso geraria o que gerou.
Mas clubes que foram contra porque o VAR da CBF só seria usado no segundo turno ou os que foram contra por causa do preço alto não poderiam ter se mexido? Os que votaram a favor do VAR não poderiam ter liderado esse movimento?
Será que era tão difícil assim os clubes chegarem a um acordo, encontrarem uma situação melhor de custo e emparedarem a CBF? Os clubes são parceiros da CBF em mais este erro histórico.
A votação será lembrada durante o ano todo. Uma pena. Uma enorme pena.
Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.