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Brasileirão segue imprevisível, mas não só pelo (baixo) nível técnico

Julio Gomes

14/04/2018 04h00

Entre os campeonatos de países com alguma relevância e história no futebol mundial, o Brasileiro é o mais imprevisível. Antes, achávamos que era assim essencialmente pelo mata-mata para decidir campeões. Mas lá se vão quase duas décadas de pontos corridos e fica claro que esta é uma competição em que é realmente difícil saber o que cada clube fará.

Títulos, de fato, ficaram nas mãos de poucos. E eles nunca mais irão para as mãos da classe média. Mas, além dos títulos, é possível perceber uma incrível montanha russa que atinge a todos. Um ano campeão, no outro quase rebaixado, no outro na Libertadores, no outro nem perto disso, no outro campeão, no outro rebaixado e assim vai.

A que se deve isso? Certamente não ao equilíbrio orçamentário. O futebol brasileiro conseguiu gerar, dentro de seu bizarro pensamento individualista, em que o outro é visto como inimigo, uma das maiores discrepâncias orçamentárias do mundo.

Mas por que os que ganham tanto dinheiro a mais da televisão não conseguem traduzir isso em domínio? Geralmente são os campeões, mas nenhum deles domina por muitos anos seguidos.

Essencialmente, porque há um nivelamento técnico. Os melhores jogadores do nosso futebol não necessariamente são tão melhores assim que os outros – e são uma espécie de terceiro escalão no universo de jogadores brasileiros, já que os melhores estão na Europa.

Além do nivelamento técnico (por baixo), há o amadorismo que impera na gestão dos clubes. De que adianta muito dinheiro em mãos incompetentes? Mais vale pouco dinheiro em mãos competentes.

O amadorismo faz com que seis rodadas coladas na Copa do Mundo não tenham os jogadores convocados por diversas seleções. O amadorismo impede a continuidade de técnicos e resulta em saídas de jogadores ao longo do campeonato.

Ou seja, qualquer análise que se faça agora está sujeita a muitas e muitas mudanças ao longo do campeonato. Mudanças, a maioria delas, imprevisíveis.

Além disso, e essa é uma crítica que faço a treinadores e dirigentes, não temos como saber quem vai se dedicar totalmente ao Brasileiro e quem vai deixar o campeonato de lado. E este é o principal fator para não ser possível fazer qualquer prognóstico.

O Grêmio tem o melhor conjunto time-técnico do Brasil? Possivelmente, sim. Então é favorito no Brasileiro? Possivelmente, não. Porque já vimos Renato abandonar o campeonato na quarta rodada no ano passado. Se o clube priorizar as Copas, não será campeão brasileiro, simples assim.

Não estou falando de poupar um ou dois em algum jogo de Brasileiro às vésperas de um confronto decisivo de Libertadores. Estou falando de times reservas inteiros em campo.

No ano passado, Flamengo e Atlético Mineiro abriram o campeonato como favoritos e fizeram um ótimo jogo. Depois, foi (quase) só tragédia. Cruzeiro e Grêmio abrem o campeonato como favoritos neste sábado. E é fácil falar que disputarão título. Difícil, como tudo aqui, é saber se isso se confirmará.

Arriscar um palpite de quem será campeão vai além de analisar times, tabelas e contextos. É preciso adivinhar o que os técnicos e dirigentes farão ao longo de um campeonato fraturado pela Copa e com a digital do amadorismo. E adivinhar é para adivinhos.

 

 

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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