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Iniesta volta ao campo em que mudou de patamar

Julio Gomes

19/02/2018 11h08

Nunca me esquecerei de uma conversa com Tostão, na pequenina cidade suíça de Weggis, durante aqueles famosos treinamentos da seleção brasileira antes da Copa de 2006. Eu já morava na Espanha e tinha acompanhado muito de perto aquele renascimento do Barcelona, que conquistava a Europa pela primeira vez em 14 anos. Falávamos de Ronaldinho, de Deco, de Eto'o, de Xavi. Quando Tostão comentou. "Quem é um craque é o Iniesta".

Eu tomei um susto. Iniesta não era um titular daquele Barça. Ele começava os jogos menores do Espanhol, quando Rijkaard preferia um time mais leve e ofensivo em campo. Na Champions, era banco. Jogavam Edmilson, Van Bommel, Rafa Márquez… caras mais pesados, literalmente. Iniesta não me chamava tanta atenção ainda em 2006. Mas, se Tostão falou, estava falado.

Aquela conversa me veio à cabeça imediatamente quando ocorreram os dois grandes momentos da carreira de Iniesta – e, por sorte, eu estava no campo nas duas vezes. Uma, claro, todos se lembrarão, foi a final da Copa de 2010 e aquele gol na prorrogação contra a Holanda. O gol do título mundial da Espanha – desde então, ele é aplaudido em todos os estádio espanhóis.

Mas, um ano antes, no dia 6 de maio de 2009, Andrés Iniesta pulou para outro patamar em sua carreira.

O estádio era Stamford Bridge, em Londres, o mesmo estádio que receberá amanhã o jogo de ida entre Chelsea e Barcelona, pelas oitavas de final da Liga dos Campeões. E Iniesta fez isso aqui.

Para muitos, aquele foi o jogo dos cinco pênaltis não marcados para o Chelsea. Era a semifinal da Champions, o jogo de ida, no Camp Nou, havia acabado no 0 a 0. Entre um jogo e outro, o Barcelona, que vivia o primeiro ano de Guardiola no comando técnico, enfiou 6 a 2 no Real Madrid, em pleno Bernabéu – o famoso jogo em que Guardiola inventou Messi como falso 9.

Quatro dias depois dos 6 a 2, vinha o duelo de Stamford Bridge. Um duelo em que o Chelsea foi muito superior e que teve, sim, vários pênaltis não marcados.

Meu testemunho, de quem estava no campo, é que nenhum dos lances, na hora, pareceram tão claros assim. Mas, depois, vendo no vídeo, dava para entender a revolta dos jogadores do Chelsea. O jogo poderia estar resolvido antes. Mas não estava. E veio o golaço de Iniesta no primeiro chute a gol do Barça. E que chute.

Eu estava atrás do gol, ali de colete laranja de imprensa. Estava no meio da torcida do Barcelona, Stamford Bridge é um estádio apertado para trabalhar. Lembro do barulho da bola estufando a rede. O mundo parou naquele momento.

O Barcelona chegaria à final, venceria o United e aquele time, no primeiro ano de Guardiola, ganharia tudo o que havia para ser disputado. Sem Champions, não haveria Mundial, Supercopa, etc. Aquele gol de Iniesta foi o gol que elevou o jogador à categoria de ídolo enorme do clube e foi o gol mais importante do Barcelona naquela temporada, a temporada do "sextete".

Iniesta já não é mais menino. Tem 33 anos.

Mas já fez nesta temporada mais jogos como titular do que na temporada passada inteira. Está melhor fisicamente, fugindo de lesões, pronto para os jogos principais do Barcelona.

O duelo contra o Chelsea nunca foi moleza para o Barça. Desde que o Chelsea foi comprado por Abramovich, os clubes se encontraram 10 vezes, com 3 vitórias do Chelsea, 5 empates e 2 do Barça – a última delas em 2006.

O Chelsea de Mourinho eliminou o Barcelona nas oitavas em 2005, mas o troco foi dado na mesma fase no ano seguinte – ali nascia a grande rivalidade Mou-Barça. Em 2009, com o gol de Iniesta, o Barcelona passou à final, mas em 2012 o Chelsea daria o troco também na semi – na última temporada de Guardiola no clube catalão. Em eliminatórias, portanto, está 2 a 2.

Quando saiu o sorteio, no fim do ano, este duelo parecia mais equilibrado.

Agora, o favoritismo do Barcelona é claro. O Chelsea vive grande instabilidade, com apenas duas vitórias em seis jogos pela Premier League em 2018. Já o Barcelona, após a perda de Neymar e o atropelamento sofrido na Supercopa espanhola, se levantou rapidamente e faz uma temporada impecável. Perdeu apenas um jogo (em 38) – para o Espanyol, na Copa do Rey, mas mesmo assim está na final do torneio.

Messi e Suárez estão voando, o time está firme em todas as linhas e, claro, tem um certo Iniesta.

 

 

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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