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Marin, Jô e a falência do futebol brasileiro

Julio Gomes

22/12/2017 19h54

José Maria Marin foi governador biônico na ditadura, conviveu com torturadores, roubou até medalha em campeonato de jovens. Mas só foi se encontrar com a Justiça porque virou, de repente, meio que por acaso, presidente da CBF. Foi com muita sede ao pote e na hora errada. Justo quando os americanos ficaram p… da vida por terem visto a Copa de 2022 ter sido roubada deles por cartolas corruptos.

Como Polícia Federal, Receita Federal, Ministério Público e congressistas brasileiros nada fazem, restou ao FBI caçar Marin. E outros bandidos. Todos velhinhos, que passaram a vida inteira roubando, extorquindo, corrompendo.

Marin possivelmente morrerá atrás das grades. É o que deveria acontecer com muitos dos nossos velhinhos aqui. Tem dois, dos mais famosos, que não podem nem sair do Brasil para não terem o mesmo destino. São refugiados e protegidos dentro do país da impunidade. Outros já morreram e nunca pagarão pelo que fizeram e roubaram.

Quantos Marins tomam e tomaram conta dos clubes e federações brasileiros ao longo dos anos?

Assim como políticos destruíram ou venderam para seus parceiros as empresas públicas nacionais, cartolas destruíram os clubes brasileiros. E, claro, usaram os clubes para perpetuar dirigentes nas federações (não só de futebol, mas de diversos esportes, entidades olímpicas, etc).

E aí chegamos à venda de Jô ao Nagoya Grampus, do Japão, por mais ou menos 10 milhões de euros.

O discurso que lemos e ouvimos é o da resignação. Os aplausos ao que nunca poderia ser aplaudido. "O clube precisa de dinheiro! Não tem como recusar uma proposta dessas!" O próximo passo é diminuir o jogador. "Jô nem vale tudo isso! Já é velho! Nunca mais oferecerão essa grana!"

Perguntem ao Real Madrid se eles contratam alguém pensando em títulos ou em vendas. Aliás, preciso contar um segredo. Títulos também dão dinheiro!

Os gigantescos clubes brasileiros, de tanta história, de tanta torcida, de tanta importância para a nossa sociedade, nunca poderiam se contentar com vendas medíocres. O que é mais importante para o Corinthians? Ter um jogador como Jô para ganhar o Brasileiro, que nunca teria sido vencido sem ele neste ano? Ou ter um jogador como Jô para ganhar uma grana e pagar dívidas?

Eu sei qual é a realidade. Mas, em vez de sucumbir a ela, prefiro olhar para a natureza dela. Na esperança de mudá-la.

Por que os clubes brasileiros estão assim? Por que chegamos onde chegamos?

Lembre-se, torcedor ou apaixonado por futebol, da sexta-feira em que José Maria Marin foi condenado e preso por americanos e em que o melhor jogador do Campeonato Brasileiro foi vendido para um clube japonês.

Este dia resume nossa falência, construída ao longo de décadas. Em vez de aplaudir ou xingar cartolas em função do título conquistado ou perdido, os verdadeiros torcedores e a imprensa séria deveriam ser implacáveis com quem destrói o maior patrimônio deste combalido país. Só assim teremos esperança.

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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