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Uma coisa que funciona melhor na Libertadores do que na Champions

Julio Gomes

08/12/2017 04h00

Os defensores do "futebol raiz", que acusam o "futebol moderno" de ser o túmulo do esporte, gostam de valorizar torneios como a Libertadores em detrimento de competições como a Liga dos Campeões.

Eu gosto de várias coisas na Libertadores. Acho que campos hostis, situações climáticas e geográficas diversas e torcidas mais, digamos, inflamadas são parte importante do esporte, sim. A ressalva é que há uma linha tênue entre um campo ser hostil pela pressão do gogó das arquibancadas ou ser hostil porque a coisa descamba para a violência constantemente – neste segundo caso, não dá para ficar romantizando.

Para mim, o problema da Libertadores nem é que os jogos sejam todos em horários diferentes ou que não haja um lindo hino tocando com os jogadores perfilados. Para mim, o problema é que os times são ruins, mesmo. O problema é que os maiores jogadores do mundo estão na Champions, e aqui vemos um segundo escalão. Esse problema é decorrência de termos países mais pobres na disputa? Sim. Mas, mais do que isso, é decorrência de ser um futebol, o sul-americano, desorganizado e nas mãos de mafiosos pouco interessados com o esporte.

Dito tudo isso, quero aproveitar este post para ressaltar uma coisa que considero muito melhor na Libertadores do que na Champions: o peso que se dá às campanhas na fase de grupos.

As consequências eram a fórmula de emparelhamento das oitavas de final e são a determinação da vantagem de decidir em casa no mata-mata em função dos pontos totais somados.

O emparelhamento (que mudou este ano) era aquela coisa de o primeiro colocado de melhor campanha jogar contra o segundo colocado de pior campanha. O segundo de melhor campanha enfrenta o segundo pior segundo colocado. E assim sucessivamente, independente de país e grupo na fase anterior.

O fator campo, ou seja, a vantagem de decidir a segunda partida em casa, também já fica pré-determinado em função da campanha na fase de grupos.

O que isso faz? Isso faz com que todos os jogos da competição sejam valorizados, criando uma atmosfera esportiva mais justa.

A fase de grupos da Champions League acabou na quarta-feira e, como havia pouco em disputa, muitos times mandaram reservas a campo. Tottenham, Real Madrid, Barcelona… outros mandaram times mistos, outros até tiveram titulares, mas o nível de motivação e concentração não eram os mesmos.

Será que o Manchester City, invicto na temporada, teria perdido para o Shakhtar Donetsk se estivesse em jogo a disputa por ter a melhor campanha entre os primeiros colocados e, consequentemente, o mando de campo no jogo de volta em todos os confrontos até a final?

O City perdeu para o Shakhtar, que acabou se classificando. O Napoli, que havia perdido as duas partidas para o City em outro momento da fase de grupos, acabou se dando mal. Foi óbvio o benefício que a tabela e o regulamento proporcionaram ao time ucraniano.

A Champions poderia adotar a regra exatamente igual à nova adotada pela Conmebol para cruzamento das oitavas. Se eles gostam do sorteio e valorizam este evento, que é visto no mundo inteiro, tudo bem, poderiam continuar sendo sorteados os duelos de oitavas. Mas seria muito legal se pelo menos a campanha da fase de grupos valesse para determinar os mandos de campo durante o mata-mata.

Isso faria com que ninguém abandonasse qualquer jogo da fase de grupos, criando mais justiça esportiva. É o que vemos na Libertadores. Os times jogam as seis partidas com força e interesse máximos, porque somar pontos na fase de grupos pode ser decisivo nas fases posteriores.

A título de curiosidade, se a regra na Champions fosse a mesma da antiga da Libertadores, as oitavas ficariam assim:

Tottenham x Sevilla
PSG x Porto
Manchester City x Juventus
Manchester United x Chelsea
Barcelona x Shakhtar Donetsk
Besiktas x Basel
Liverpool x Real Madrid
Roma x Bayern de Munique

O Tottenham, que teve a melhor campanha, decidiria em casa todos os duelos até a final. O Manchester City, que acabou com a terceira melhor campanha, teria sido o primeiro, tivesse vencido o Shakhtar.

Alguém argumentará que não se pode dar uma vantagem a um time sobre o outro, considerando que os adversários enfrentados em um grupo podem ser mais fracos do que o de outro. Oras. É verdade, isso pode acontecer. Mas ainda assim as coisas seriam decididas no campo, e não em sorteio. Ainda assim seria uma vantagem adquirida esportivamente, não por pura sorte.

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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