No meio da guerrinha, quem mostra mais bola e maturidade é Mbappé
Julio Gomes
27/09/2017 17h44
Engana-se quem pensa que o mais importante na tarde desta quarta era analisar o futebol jogado por Paris Saint-Germain e Bayern de Munique. Tudo estava e está em segundo plano. Entender a relação entre Neymar e Cavani, compreender o que ela pode significar, é a coisa mais importante do momento.
"Ah, mas isso é fofoquinha", dirão alguns. Não, não, mil vezes não. Isso é observar e analisar a relação entre o principal artilheiro do time e o jogador mais caro da história do futebol. É óbvio que o sucesso do PSG na temporada depende de um bom relacionamento entre eles – mesmo que tal relacionamento seja restrito ao campo.
Se houver qualquer tipo de boicote ou má vontade, estará indo por água abaixo o projeto de maior investimento já visto no futebol.
Os números mostraram que, desde a estreia de Neymar com a camisa do PSG até o "jogo da discórdia", contra o Lyon, dez dias atrás, ele e Cavani foram trocando menos e menos passes entre eles. Não é fofoca. É estatística. É análise de dados.
O que se viu nesta quarta, contra o Bayern, é que Mbappé não assumiu a camisa do "time Neymar" ou do "time Cavani". Foi o garoto de apenas 18 anos quem melhor e mais democraticamente se apresentou em campo. Foi o grande nome da vitória.
Vitória construída logo a um minuto e meio. Neymar fez grande jogada pela esquerda e deu passe açucarado para Daniel Alves, que entrou muito mais livre do que deveria pela direita para finalizar. A partir daí, o Bayern de Munique tomou as rédeas do jogo e abusou das bolas aéreas. Levou vantagem quase sempre, o que deve acender um sinal de alerta na defesa do PSG.
No entanto, é perceptível que será muito difícil para qualquer time jogar contra o PSG estando atrás no placar. Ceder espaços é simplesmente fatal. Neymar e Mbappé são muito rápidos e muito bons. E Cavani é um atacante de mobilidade, que se desloca bem. Os três farão barulho durante a temporada toda, especialmente quando tiverem buracos para contra atacar.
Vieram, então, os gols de Cavani e Neymar. E as comemorações. Que precisam, sim, ser observadas.
No segundo gol, Mbappé costurou pela direita, fez grande jogada e passou para Cavani acertar um chutaço. Neymar, que no primeiro gol comemorou efusivamente com Daniel Alves, no segundo gol correu em direção a Mbappé, enquanto o time celebrava com Cavani. Depois, só depois, Neymar fez lá um carinho em Cavani. Frio. Mais para as câmeras do que qualquer coisa.
Claramente existe algo ali. Só não vê quem não quer. Está bem longe de estar resolvida a questão entre eles.
No segundo tempo, o Bayern continuou em cima. Literalmente. Todas as tentativas eram por cima. Mas podiam ficar jogando uns três dias que não sairia o gol do Bayern.
E logo começaram a aparecer mais chances de contra ataque para o PSG. Em uma delas, após jogada iniciada por Dani Alves, Mbappé penteou a bola, só não fez chover dentro da área e cruzou. No rebote, Neymar deixou o dele.
O time inteiro correu para celebrar com Mbappé. Quando substituído, foi aplaudido em pé pelo Parque dos Príncipes.
Deu para notar que tanto Neymar quanto Cavani se sentem muito mais à vontade buscando se associar a Mbappé. E este mostra incrível maturidade e capacidade de fazer as melhores escolhas. Dar o passe para quem realmente tem que receber o passe, sem fanfarronices ou querer jogar para a torcida. Esse garoto vai longe.
Com 3 a 0, Neymar bateu uma falta. Cavani bateu outra. Se cumprimentaram. Não teve o pênalti que todo mundo queria. A relação está fria mas, em uma noite ótima para o Paris, o clube não foi afetado negativamente. Lógico, teremos que ver como a coisa evolui ao longo da temporada e, o principal, teremos de ver o que acontecerá com os pênaltis e o que acontecerá em jogos em que as coisas não estiverem dando certo.
Tanto a coisa está pegando que, em um lance parecido com o do primeiro gol, Neymar habilitou Daniel Alves para finalizar e fazer o quarto. Mas Daniel preferiu cruzar para Cavani fazer mais um. Foi nítida a intenção do lateral brasileiro.
O jogo não sela a paz entre Neymar e Cavani. Mas mostra que eles podem conviver em campo sem prejudicar o time. Só não podem querer disputar a amizade e os passes de Mbappé da maneira infantil como disputaram as cobranças de pênalti e falta dez dias atrás.
O Bayern de Munique tem problemas. Falta criatividade no ataque e sobram espaços para os adversários contra golpearem. Vai ficar em segundo neste grupo, e vamos ver que peças Carlo Ancelotti vai mover para o gigante alemão ser forte no mata-mata, no ano que vem.
Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.