Alemanha aprendeu 'lição brasileira' e acerta ao poupar nas Confederações
Julio Gomes
19/06/2017 04h00
A Copa do Mundo, já faz algum tempo, não é mais a baba de outrora para os países tradicionais da bola. Nunca foi uma baba ganhar a Copa – mas quase nunca foi complicado para os grandes passar de primeira fase e chegar até o momento agudo da competição.
Isso foi mudando ao longo dos anos. E, hoje, em um futebol globalizado, em que as informações (táticas, técnicas e de treinamentos) correm muito rapidamente, a história de "não ter bobo" virou uma realidade. Portanto, em uma competição curta, como são Copas entre seleções, o condicionamento físico não só é uma virtude. É obrigação. É mandatório estar com todo mundo a 100%.
Neste contexto, a Alemanha acerta ao deixar tantos jogadores importantes fora da Copa das Confederações. A estreia será nesta segunda, contra a Austrália.
A Alemanha é a atual campeã do mundo. A Alemanha joga para ganhar Copa e Eurocopa. Claro que não entra para perder a Copa das Confederações, mas entra com limitações em nome de algo maior.
Não é o caso, por exemplo, de Chile, Portugal e México. Para estas três seleções, que têm tradição no futebol, mas não o peso da Alemanha, ganhar uma Copa das Confederações seria um feito. Seria bizarro deixar Alexis Sánchez ou Cristiano Ronaldo ou qualquer outro jogador fora de um momento importante na história do futebol destes países. Os olhos do mundo estão voltados para a Rússia.
Sim, é verdade que esses caras correm o risco de chegar com a língua de fora na Copa-2018, após vários anos sem férias ou sem pré-temporada bem feita. Mas… e daí? Para chilenos, mexicanos e portugueses, essa Copa das Confederações é histórica. E ganhá-la é uma possibilidade. A Alemanha escolheu compartilhar o favoritismo com os outros.
O que trouxe para o Brasil os títulos das Copas das Confederações de 2005, 2009 e 2013?
Será que foi a melhor estratégia expor suas qualidades e defeitos para o mundo inteiro ver? A de 2013 é até compreensível, pois a seleção tinha técnico novo, precisava montar time e jogava a competição em casa. Mas as outras…
Em 2005, Parreira até que deixou alguns poucos nomes fora daquela Copa das Confederações. Em 2009, Dunga foi com tudo. O fato é que o Brasil ganhou todas elas e perdeu todas as Copas do Mundo subsequentes. Já quando mandou o time Z, aquele do Leão, em 2001, se deu bem no ano seguinte.
A Alemanha tenta não cometer o erro do Brasil. Não quer se expor e não quer massacrar fisicamente seus jogadores mais importantes. Neuer, Hummels, Boateng, Kroos, Khedira, Ozil, Muller… ficam todos em casa. É a hora dos Kimmich, Brandt, Sule, Werner, Draxler.
Há países que vivem o dia a dia, a obrigação da vitória sempre a qualquer custo. E há países que planejam, entendem que derrotas fazem parte do jogo, mantêm estilo, base e vão fazendo transições pouco dramáticas. Alguns vivem da ruptura (e às vezes se dão bem com ela). Outros prezam pela estabilidade. Extrapole o futebol e muita coisa será explicada.
Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.