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Por que não uma Bola de Ouro para Buffon?

Julio Gomes

04/05/2017 06h00

Goleiros são vilões. Não nos enganemos. Você pode até amar aquele goleiro do teu time. Mas o futebol pertence aos atacantes. Aos mágicos. Futebol é gol. Nada no mundo é mais emocionante do que o gol. E os goleiros, esses estraga-prazeres, estão lá com tão somente um objetivo: evitar o gol. Não dá para gostar desses caras!

Não à toa, Lev Yashin foi o único a ganhar uma Bola de Ouro até hoje, em 1963. E isso em uma época que a Bola de Ouro tinha de ir necessariamente a jogadores europeus. A France Football fez uma reavaliação dos prêmios dados até 95, quando esta regra caiu. E Pelé, lógico, é quem teria vencido a Bola de Ouro em 63.

Bola de Ouro que vai das mãos de Messi para Cristiano Ronaldo para Messi para Cristiano Ronaldo desde 2008. Cinco para um, quatro para outro.

Bola de Ouro que saiu das mãos da Fifa e que voltou para a France Football. Ou seja, voltamos a ter esperanças de que seja premiado o melhor DO ANO, não o melhor jogador, independentemente do que tenha feito no ano.

Ninguém discute que Messi e Cristiano Ronaldo são os melhores jogadores do mundo e há muito tempo. Não necessariamente, porém, eles são os melhores todos os anos. Vota-se muito no nome, no automático, nessas eleições. Em 2010, por exemplo, Iniesta, Xavi e Sneijder jogaram mais que Messi. Em 2013, possivelmente Ribery tenha jogado mais que Cristiano Ronaldo.

Estes eram anos em que a Bola de Ouro estava unificada com a Fifa. Não está mais.

Abre-se, portanto, a possibilidade de vermos um Buffon eleito o melhor jogador do ano. Para isso ser viável, lógico, a Juventus precisa ser campeã da Europa.

A Juve está virtualmente classificada para a final da Champions contra um também virtualmente classificado Real Madrid.

Vamos imaginar que a Juventus seja campeã. Buffon terá parado Messi e Cristiano Ronaldo no mesmo torneio, em poucas semanas.

Claro que não é só por causa de Buffon que a Juve tomou 2 gols em 11 jogos na atual edição da Champions, zero gols nos cinco jogos de mata-mata – três deles contra Barcelona e Monaco, dois dos três melhores ataques da temporada. O time tem um sistema defensivo sólido, coeso, jogadores experientes e muito bons. Tem o DNA italiano. E tem Buffon.

Talvez Buffon não seja mais o melhor goleiro do mundo – no meu ponto de vista, é Manuel Neuer (que, em 2014, ficou em terceiro, apesar do título da Copa). Mas Buffon faz uma temporada mais relevante que a de Neuer.

Quantas pessoas vivas viram algum goleiro melhor do que Buffon?

Aqui estou falando da carreira. Uma carreira de 22 anos entre Parma e Juventus, de 20 anos na seleção italiana, de uma Copa do Mundo, de tantos outros títulos (falta só a Champions).

Quem se lembra de um frangaço de Buffon? Quem se lembra de Buffon deixando seu time ou país na mão?

Quem viu um goleiro melhor?

Opa. Calma. Estou falando ver de verdade. Não um par de jogos em Copa do Mundo. Estou falando de ver semana sim, semana também.

Não acredito, independente do resultado da final da Champions, que ele ganhe na votação da Fifa. Se for campeão europeu, capaz que ganhe na eleição da France Football – que é a Bola de Ouro original, a mais relevante, a mais respeitada (no Brasil, tende-se a respeitar mais o "oficial", mas a Bola de Ouro tem muito mais credibilidade que o prêmio da Fifa).

A pergunta que lanço no título deste post, no entanto, independe do que vai acontecer na final de Cardiff.

Pela temporada brilhante e pelo conjunto da obra, eu daria o meu voto para a Bola de Ouro a Gianluigi Buffon.

 

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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