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Paulinho, as apostas e o recorde histórico de Tite

Julio Gomes

23/03/2017 21h56

Ser técnico da seleção brasileira é ser um pouco apostador. Fazer escolhas, acreditar que este ou aquele jogador vai dar a resposta necessária. Paulinho é uma aposta de Tite que vem rendendo altos dividendos. Neymar deixando de ser faz-tudo é outra. Alisson, uma aposta ainda a ser comprovada.

De aposta em aposta, acerto em acerto, Tite vai estabelecendo recordes e colocando o Brasil como maior favorito para a Copa do Mundo do ano que vem – lembrando que a Argentina está em viés de baixa, Alemanha e Espanha chegarão em transição à Rússia. No principais sites de apostas do mundo, só um título da Alemanha paga menos do que o título do Brasil. Pouco menos, já está quase a mesma coisa. Você nem imagina a capacidade que as casas de apostas têm de prever o futuro.

Cinco vitórias consecutivas era o máximo que havia sido conseguido por uma seleção nas eliminatórias sul-americanas de pontos corridos – uma competição de altíssimo equilíbrio e estádio complicados. A Argentina conseguiu duas vezes, o Equador, uma. Tite já conseguiu sete vitórias seguidas. Superou as seis seguidas de João Saldanha na campanha anterior à Copa de 70.

A goleada por 4 a 1 sobre o Uruguai, em Montevidéu, de virada, teve pouco de acaso. O Brasil dominou o primeiro tempo, não sentiu o gol sofrido logo no início, chegou naturalmente ao gol de empate e à virada. Suportou bem a pressão no segundo tempo, com compostura defensiva e sem abdicar da transição rápida para contra atacar.

A rotatividade alta da seleção não deveria ser regra, claro. A escolha de jogadores deveria ser mais constante e seguir certa coerência desde a base. Em tempos em que seleções se reúnem tão raramente e por tão pouco tempo, em tempos de futebol coletivo, em que individualidades contam menos, quanto mais os jogadores se conhecerem e o estilo for mantido, melhor.

Vivemos ao longo das décadas altíssima rotatitivade de treinadores. Cada um resolve jogar de um jeito, cada um tem seus jogadores prediletos ou de confiança, a imprensa pressiona por seus prediletos, e a cada mudança de comando o Brasil foi sofrendo revoluções. Nada a ver com a Alemanha, por exemplo, que mantém bases sólidas por anos e vai pontualmente acrescentando um jogador aqui, outro ali.

Tite foi o enésimo treinador a fazer a própria revolução. Algumas apostas eram óbvias, como trazer Marcelo de volta ao time ou dar espaço a Casemiro, voando no Real Madrid.

Outras, nem tão óbvias. Como dar a titularidade a um jovem Gabriel Jesus. Como bancar Alisson no gol. Ou resgatar Paulinho.

Nunca fui apaixonado pelo futebol de Paulinho. Ele teve um período fantástico no Corinthians com Tite. Mas sempre desconfiei de jogadores que aparecem tarde, não triunfam no futebol de altíssimo nível e vão parar em mercados como a China.

Talvez ele simplesmente não tenha a capacidade de se adaptar a um país como a Inglaterra, aprender idioma, superar competição. Mas, com confiança e espaço garantido, o cara seja um monstro.

Tite bancou um cara que ele conhecia e que se adaptava ao futebol de área a área que é jogado hoje em dia por meio-campistas. E Paulinho não só fez boas partidas até agora como foi o grande nome da virada no Centenário. Um golaço do meio da rua empatou o jogo, e um rebote típico de quem está bem colocado decretou a virada. Depois, veio a pintura de Neymar. E a cereja do bolo foi o quarto gol no finalzinho.

Hat trick de Paulinho. Um truque de tirar o chapéu, o de Tite.

Neymar funciona na seleção de forma parecida com a de Cristiano Ronaldo no Real Madrid e, claro, dele mesmo no Barcelona. Associa-se pela esquerda com Marcelo, tem liberdade para afunilar e tirar da cartola bons passes para os meias que infiltram. Quando consegue o um contra um ou a chance de finalizar – sua maior qualidade -, triunfa. É craque.

Não ter Neymar com a responsabilidade de resolver tudo o tempo todo é uma das grandes virtudes de Tite.

Ainda resta ver se a aposta em Alisson dará certo. Acho uma injustiça Diego Alves, do Valencia, não ser o titular da seleção há muitos anos. Mas quem sou eu para desconfiar das apostas de Tite!

Assim como não desconfio de apostadores. O título do Brasil no ano que vem está pagando entre 7 e 8 para 1. Está aí um bom investimento. Tão bom quanto os de Tite.

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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