Topo

Por que o Barcelona é tão ajudado pelos árbitros? Relembre os escândalos

Julio Gomes

09/03/2017 06h00

Quando cheguei à Espanha, onde vivi por mais de cinco anos, notei que havia um cântico de arquibancada sempre repetido nos jogos do Real Madrid. Não demorei muito para decifrá-lo. "Así, así, así gana el Madrid". Todos mostram as mãos abertas enquanto cantam. "Assim ganha o Madrid". Na mão grande. Institucionalizou-se, na Espanha, que o Real Madrid só era o maior dos campeões, seja no futebol ou no basquete, porque era ajudado.

Minha teoria é muito simples. Árbitros têm medo de errar contra os times grandes, mais populares, de mais mídia e poder. Suas carreiras são prejudicadas se eles erram contra os grandões. Na dúvida, melhor apitar a favor do que contra. As reclamações por toda a Espanha sobre o Real Madrid eram historicamente procedentes. Mas já está na hora de inventarem uma musiquinha para o Barcelona também, não está não?

O Barcelona virou um clube verdadeiramente global e campeão nos últimos 14 anos. O pontapé inicial foi a chegada de Ronaldinho. De lá para cá, foram quatro Copas da Europa (só uma antes de 2003), três Mundiais (zero antes), três Supercopas da Europa (duas antes), sete Supercopas da Espanha (cinco antes), oito títulos espanhóis (16 antes) e ainda mais quatro Copas do Rei (eram 24 antes, nisso sim eles já eram ótimos).

O Barça sempre foi grande, o representante de uma região, conhecido, especialmente após a chegada de Cruyff. Mas, multicampeão mesmo… isso é coisa recente. Virou grandão. E, como grandão que é, passou a ser muito ajudado pelas arbitragens.

O que aconteceu no Camp Nou na quarta-feira foi épico. Os 6 a 1 sobre o PSG, após o 0-4 da ida, são simplesmente históricos. Mas foi a enésima vez nestes últimos anos que o Barcelona foi altamente beneficiado por arbitragens. Ou a Uefa ama o Barça. Ou é tudo uma grande coincidência.

Quando José Mourinho listou nomes de árbitros naquela entrevista coletiva de 2011 – em que ele perguntava "por quê?", "por quê?", "por quê?"…. por que sempre pró-Barça? -, eu confesso que saí indignado da sala de imprensa. O cara estava colocando na conta da arbitragem, de forma simplista, todas as conquistas recentes do clube. Sigo discordando de como Mourinho colocou a coisa. Mas o homem tinha um ponto. Senão vejamos.

Destas quatro Champions League vencidas pelo Barça recentemente, em três delas houve lances para lá de polêmicos nas semifinais.

Clique nos links abaixo e abra em outra janela para assistir aos lances.

2006. Barcelona 0 x 0 Milan

O Barça havia vencido o jogo de ida, em Milão, por 1 a 0. Na volta, em Barcelona, Shevchenko marcou um gol limpo de cabeça na metade do segundo tempo, o que igualaria a eliminatória. O árbitro alemão Markus Merk apitou uma falta em Puyol que só ele viu.

2009. Chelsea 1 x 1 Barcelona

Um escândalo em Stamford Bridge. Após empate por 0 a 0 em Barcelona, o time de Guardiola perdia por 1 a 0 em Londres e tinha dificuldades para chegar ao ataque. O árbitro norueguês Tom Henning Ovrebo deixou de dar alguns pênaltis para o Chelsea. Alguns falam em quatro lances claros, outros em cinco, outros em seis. Nos acréscimos, Iniesta acertou uma pintura, um golaço, e classificou o Barça para a final. O segundo e o terceiro pênaltis, em Drogba, são realmente inacreditáveis. O braço de Eto'o nos acréscimos, bloqueando o chute de Ballack, também.

2011. Real Madrid 0 x 2 Barcelona

Era o jogo de ida das semifinais. A expulsão direta de Pepe por uma solada em Daniel Alves condiciona a partida, que estava empatada. Um amarelo cairia bem para a jogada, mas o árbitro alemão Wolfgang Stark preferiu o vermelho direto. O Barça ganharia por 2 a 0 no Bernabéu. Na partida de volta, 1 a 1 no Camp Nou, Higuaín teve um gol mal anulado pelo belga Frank de Bleeckere.

Bom lembrar que antes de chegar àquela semifinal, contra o Real, o Barça havia passado pelo Arsenal nas oitavas. Perdeu o jogo de ida, em Londres, por 2 a 1. Na volta, no Camp Nou, o jogo estava empatado por 1 a 1 quando o árbitro suíço Massimo Bussaca resolveu expulsar Van Persie, então melhor jogador do Arsenal, porque ele tocou para o gol em um lance em que havia impedimento.

Decisão duríssima e para lá de polêmica. Entre o apito e o toque de Van Persie se passou apenas um segundo, foi uma jogada muito rápida. O Barça venceria o jogo com um homem a mais e conseguiria a vaga.

No meio dos dois títulos europeus de 2009 e 2011, o Barcelona de Guardiola ficou pelo caminho na semifinal da Champions League de 2010, contra a Inter de Milão de Mourinho.

A Inter venceu o primeiro jogo por 3 a 1. No jogo de volta, no Camp Nou, o Barcelona voltou a se beneficiar de uma expulsão para lá de polêmica. Thiago Motta foi expulso aos 27min de jogo por um suposto cotovelaço no rosto de Busquets. Na verdade foi apenas uma proteção, Motta toca no rosto de Busquets com a mão. Nunca deveria ter sido mostrado o vermelhor por De Bleeckere. Atenção para o teatro de Busquets no chão e a olhadinha para ver se o juiz cairia na dele.

Nas oitavas de final da Champions 2013/2014, o Barcelona empatava por 0 a 0 contra o City, em Manchester. O árbitro sueco Jonas Eriksson dá pênalti de Demichelis sobre Messi. O detalhe: a falta foi fora da área.

No ano passado, tivemos a absurda expulsão de Fernando Torres pelo alemão Felix Brych ainda no primeiro tempo do jogo do Camp Nou, quando o Atlético vencia por 1 a 0 – acabaria levando a virada, com Luís Suárez tendo vários vermelhos perdoados e dois gols feitos. O Atlético acabaria conseguindo a classificação em Madri.

E, agora, a escandalosa arbitragem do alemão Deniz Aytekin contra o PSG. A classificação do Barcelona foi épica e histórica, mas simplesmente não dá para ignorar o fato de o árbitro ter marcado dois pênaltis inexistentes para o Barça em momentos cruciais do jogo. E não ter marcado dois pênaltis para o PSG – um deles admitido pelo próprio Mascherano, com 40min do segundo tempo, com o placar em 3 a 1.

Sim, a virada foi magnífica, Neymar jogou muito, o PSG deu sopa para o azar. Tudo isso é verdade. Mas não haveria virada sem as decisões lamentáveis do árbitro.

Podemos ver, pelas nacionalidades acima, que alemães entendem muito de quase tudo. Menos de apito.

Sem dúvida, ao longo desses anos todos o Barcelona chegou a ser prejudicado por arbitragens aqui e ali. Recentemente, teve um gol legítimo não anotado contra o Bétis, pela Liga espanhola.

Mas, em jogos de Champions League, em jogos verdadeiramente grandes e decisivos, fiquei horas tentando puxar na memória algum jogo em que o Barça tenha sido escandalosamente prejudicado. Simplesmente não consegui encontrar.

O amigo e colega Mauro Cézar Pereira fez um levantamento interessante. Aytekin havia apitado dois pênaltis em 18 jogos na temporada toda. Não é exatamente um soprador costumaz. Mas foi contra o PSG.

Merk. Ovrebo. Stark. De Bleeckere. Bussaca. Brych. Aytekin. A lista aumenta.

Agora você deve estar esperando que eu dê a resposta ao título deste post. Eu não tenho essa resposta. Tenho apenas uma pergunta.

Por quê?

 

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Por que o Barcelona é tão ajudado pelos árbitros? Relembre os escândalos - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


Julio Gomes