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Chegou a hora de o Barcelona vender Messi?

Julio Gomes

24/02/2017 06h00

Foi um tablóide inglês, em novembro, que "noticiou" que o Manchester City estaria disposto a pagar 100 milhões de libras ao Barcelona por Messi – mais ou menos 385 milhões de reais. Este, por sua vez, receberia um salário de 100 milhões de reais por cada uma das quatro temporadas de contrato.

Messi passaria a ter um salário parecido com o de Tevez, que foi para a China ganhar um pouco mais de 100 milhões por duas temporadas e ser o jogador mais bem pago do mundo.

Eu usei aspas ali acima no primeiro parágrafo porque esse tipo de notícia sempre aparece em tempos de renovação de contrato. Empresários passam para frente o que quiserem e jornais publicam sem checar. É o jeito de pressionar, através, da mídia, para conseguir melhores contratos. É o jeito também de mandar recados.

O contrato de Messi com o Barcelona acaba no meio de 2018, ao final da próxima temporada. No fim de 2017, qualquer clube pode negociar com Messi sem nem perguntar ao Barça. Imaginem o maior jogador da história do clube, talvez de todos os clubes, saindo de graça? Ou seja, já passou da hora de renovar, o risco aumenta a cada dia.

Mas será que este é o movimento correto para o clube?

Ou será que chegou a hora de vender Messi?

O Barcelona vive uma crise esportiva importante. Aposentadorias (como a de Xavi), saídas (como a de Daniel Alves), lesões (como a de Mascherano), envelhecimento (como o de Iniesta), más contratações (como a de André Gomes). Vários fatores fizeram com que, de repente, o time se visse com o melhor ataque do mundo e… nada mais.

Em seu primeiro ano como técnico do Barcelona, Luís Enrique ganhou tudo – Champions League, Mundial, Liga, Copa do Rei. No segundo ano, doblete com a Liga e a Copa. Mas a eliminação para o Atlético de Madri na Champions 15/16 e o derretimento na reta final que quase jogou no lixo o título espanhol geraram interrogações. Tudo isso ocorreu de um ano para cá.

Vieram, então, as más contratações. Muito dinheiro gasto em jogadores de nível médio. E uma terceira temporada em que o Barcelona não consegue jogar bem. Ainda está na disputa pelo título espanhol e na final de outra Copa do Rei, mas os humilhantes 4 a 0 sofridos diante do PSG não só devem significar a eliminação na Champions, mas também um marco.

Luís Enrique só tem contrato até o fim da atual temporada e cada vez fica mais difícil imaginar a continuidade do treinador. Explosivo, está em litígio com parte da imprensa catalã. E, o principal, não encontra soluções para os problemas do time.

O Barcelona não cria nada, sofre na defesa e só ganha jogos porque Messi, Suárez e Neymar, alternadamente e não necessariamente nesta ordem, têm conseguido resolver algumas coisas. É um Barça sem identidade, dependendo de contra ataques e genialidades.

Enquanto não é definida a situação de Luís Enrique, Messi não acerta a renovação. Ele não vai assinar enquanto o projeto esportivo do clube para os próximos anos não estiver claro. Enquanto isso não acontece, fica mais perto do fim do contrato e o mundo do futebol fica mais e mais ouriçado.

Quem teria bala para contratar Messi? Possivelmente, apenas Real Madrid, Manchester City, Manchester United, Chelsea, Bayern de Munique e PSG. Quem, realisticamente, pagaria mais de 100 milhões de euros por Messi: City e PSG seriam os candidatos únicos.

Neymar e Suárez já renovaram até 2021. O Barça tem problemas em todos os setores, exceto o ataque. Nas laterais, na zaga, no meio de campo, no banco de reservas.

E se vender Messi significasse conseguir um time novo?

Será que o City e Guardiola não aceitariam colocar na mesa nomes de jovens como De Bruyne, Sané, Gabriel Jesus…? Será que o PSG não aceitaria colocar na mesa nomes como Thiago Silva, Marquinhos, Verratti…?

Além, logicamente, de muita grana, que poderia ser bem usada nas mãos de alguém que saiba mais de mercado do que Luís Enrique e os diretores atuais.

Messi é o maior jogador da história do Barcelona. Pegou o bastão de Ronaldinho e entrou para o olimpo do esporte. É um cara de 500 gols com a camisa do clube, quatro Champions, três Mundiais, oito Ligas, cinco prêmios de melhor do mundo.

Mas é inegável que o auge já passou. Messi já está em declínio. Já faz jogos ruins com alguma frequência, como foi no 4 a 0 de Paris. Já mostra, às vezes, falta de ambição em campo. Já deixou de ser decisivo em todos os jogos grandes da temporada.

Na atual, por exemplo, os poucos jogos em que passou em branco foram justamente os mais importantes: o de Paris, o clássico contra o Real, duelos contra o Atlético…

Claro, estamos falando de um dos três maiores da história, senão o maior. O declínio dele significa 34 gols em 34 jogos na temporada atual. Mas quem viu Messi na plenitude, entre 2008 e 2015, consegue notar que ele não é o mesmo. Quanto tempo vai demorar para aparecerem lesões que o afastem por mais tempo? Quantos anos mais Messi manterá uma média de um gol por jogo? Dois? Será?

Por outro lado, Messi não parece respeitar as regras "naturais" escritas ao longo de décadas. É capaz que se motive com novos desafios, que fique aí mais cinco anos em nível estratosférico, que leve o Barça a muitos mais títulos. Vai saber.

Por mais que o futebol seja cada vez mais um negócio, existe um componente intangível. O significado de Messi para o clube, para os torcedores, para a cidade, para a região. Isso não se mede em dinheiro. O coração de todas as pessoas envolvidas dirá: que se dane se Messi cair de produção nos próximos anos. Que se dane o resto do time. Esse cara não pode vestir outra camisa na vida.

Mas, racionalmente, será que tem sentido renovar seu contrato e gastar milhões em vez de ganhar milhões e construir um novo time, agora com Neymar e Suárez como protagonistas?

Aliás, quanto tempo mais Neymar aguentará ser coadjuvante? Não estaria o clube correndo o risco de perder os dois ao mesmo tempo? Neymar, que é cinco anos mais jovem, para algum rival. Messi, para o tempo.

O tempo chega para todos.

Eu duvido que algum dirigente tenha coragem de tomar essa atitude. Duvido que algum cartola tope vender Messi e assuma a bronca. Na prática, creio que isso só acontecerá se ele, Messi, quiser sair. Talvez nunca exista a hora para vender Messi.

Mas e0 você? Teria coragem? O que acha que o Barcelona deveria fazer? Renovar ou vender?

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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