Críticas de francês à torcida no Engenhão são ridículas
Julio Gomes
16/08/2016 02h43
MI MI MI.
Não há outra maneira de definir a atitude do francês Renaud Lavillenie após perder o ouro para o brasileiro Thiago Braz no salto com vara, na noite de segunda-feira, no Engenhão.
Lavillenie ficou revoltado. No momento em que só sobraram ele e Braz na disputa, a torcida, que esquentou conforme a competição avançava, passou a vaiar as tentativas do francês.
Tudo transcorria normalmente antes. Enquanto saltava sem erros, o francês não reclamava de nada nem de ninguém. A vaia foi mais forte mesmo só na última tentativa, depois de Braz ter voado para saltar 6,03 m, melhor marca da carreira. O francês, além de campeão olímpico em Londres, é detentor do recorde mundial. Já saltou 6,16 m para tomar o lugar do lendário Sergei Bubka, dono de seguidos recordes ao longo de 30 anos (de 84 a 2014).
Um cara fera e experiente como Lavillenie não deveria se abalar com vaias. Ao fazer sinal de negativo antes mesmo de seu último salto, ele passou o recibo. A torcida ganhou dele antes mesmo de Thiago. Entrou em sua cabeça. Ele deu o último salto sabendo que ia errar e já sabendo que justificativa daria.
Comparar as vaias desta noite com as recebidas por Jesse Owens em 1936 é um descalabro. Em Berlim, sob as bandeiras do nazismo, as vaias não eram apenas esportivas.
Ninguém no Engenhão tinha nada contra a França, o fondue, a Peugeot, champagne, perfume ou Zidane. Não era nada pessoal contra o Monsieur Lavillenie. Era apenas uma torcida quente por uma medalha de ouro que um homem brasileiro não ganhava havia 32 anos.
Somos ignorantes no Brasil em relação à maioria dos esportes. Não sabemos se na hora H do salto com vara se deve ficar em silêncio ou não. Não faz parte de nossa cultura.
Désolé.
Adapte-se. É um estádio. Contra um brasileiro. O que ele queria?
Ninguém cuspiu na cara dele, não houve trapaça, raio laser no olho para atrapalhar, não houve perseguição por horas a fio, ninguém ia bater nele se ganhasse. Teve até aplauso quando ele se retirava do campo. Um tom acima, talvez? Tenho certeza que algo parecido ocorreria no Stade de France, fosse a situação inversa. Franceses não são exatamente os campeões universais dos bons modos.
Seria ótimo se nos habituássemos a ver mais esportes na televisão, não só em Olimpíadas. Aprenderíamos sobre regras, costumes, comportamentos.
Mas o que aconteceu no Engenhão foi longe de ser um absurdo.
Lavillenie perdeu. E não soube perder. Não imaginava perder, essa é que é a real.
Nada como o esporte. Do lugar mais inesperado, veio o segundo ouro do Brasil no Rio.
Viva Thiago BRAZileiro!
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Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.