Biles: a dois passos de superar mitos e ganhar peso de Phelps e Bolt no Rio
Julio Gomes
15/08/2016 06h00
É a terceira Olimpíada seguida dominada por Michael Phelps e Usain Bolt. Nos dois esportes que talvez sejam os mais "olímpicos" de todos, estamos testemunhando história.
Em Pequim, em Londres, no Rio. Phelps e Bolt. Bolt e Phelps.
Dá até preguiça contar os feitos de Phelps. Esse lindo álbum de fotos resume tudo de forma bacana e prática. O cara nada todos os estilos, ganhou 28 medalhas, 23 delas de ouro, 13 dos 23 ouros em provas individuais. Um monstro. Ainda encerrou a carreira, no Rio, deixando de lado aquela imagem de máquina sem coração. Superou a depressão, beijou como nunca o filho de 3 meses (tem quem nem tire de casa um bebê desse tamanho!), vibrou, chorou. Ele é gente como a gente.
Bolt nunca teve problemas em se mostrar humano, simpático, especial. O carisma móvel. O carisma que corre como jamais alguém correu.
O primeiro tricampeão olímpico na história do atletismo de pista. O homem mais rápido de todos os tempos. Se confirmar também nos 200m e no 4x100m com a Jamaica, chegará a 9 ouros, se igualando a mitos dos livros olímpicos.
Não dá para se cansar de Phelps e Bolt, Bolt e Phelps.
Mas quero chamar a atenção para um terceiro nome: Simone Biles.
A pequena gigante americana. Menos de metro e meio. 19 anos de idade. Muita história já escrita em Mundiais. E linhas maiores que estão por vir.
Biles conquistou no domingo o terceiro ouro no Rio, ganhando a prova do salto com vantagem assustadora. Já havia vencido no individual geral e por equipes. Nesta segunda-feira, é favorita a ganhar na trave. Na terça, encerra também como favorita no solo.
Prestem atenção a estes dados. Simone Biles pode ser a primeira ginasta a conquistar cinco medalhas de ouro em somente uma edição de Jogos Olímpicos.
Ela está prestes a superar as lendárias Larisa Latynina, ucraniana que competia pela União Soviética, e a tcheca Vera Caslavska. Já igualou o que fez a romena Nadia Comaneci 40 anos atrás com os três ouros no Brasil.
Latynina, para se ter uma ideia, detinha os recordes de medalhas e medalhas em provas individuais na história dos Jogos – até aparecer um tal Phelps. Caslavska é a mulher que mais ganhou medalhas de ouro na história olímpica: sete. Não estou falando apenas da ginástica, mas de todas as modalidades.
Pois bem.
Em Melbourne-56, Latynina ganhou 4 ouros (individual geral, equipes, solo e salto). No México-68, Caslavska repetiu a dose com 4 ouros (individual geral, solo, salto e barras assimétricas). Foi a única, até hoje, a ganhar as provas de três dos quatro aparelhos. Biles está prestes a superar esses números. As duas lendas chegaram a ganhar 6 medalhas em uma edição dos Jogos, coisa que Biles não repetirá. A americana não é espetacular nas barras assimétricas como é nos outros aparelhos. Em compensação, o domínio no solo, trave e salto é assustador.
A pequena gigante faz tudo o que faz em uma época em que a ginástica está globalizada. Se nos anos 60 era uma modalidade dominada pelos países do bloco soviético, hoje em dia está mais difundida e competitiva.
Se Biles conquistar os inéditos cinco ouros, fará História, com H maiúsculo, em uma modalidade de altíssima visibilidade e alcance mundial.
Não estou falando que imediatamente ela ganha o tamanho dos dois mitos. Ela ainda tem tempo para repetir doses e acumular vitórias nos próximos Jogos, como os outros dois, focados, preparados e gigantescos, fizeram.
Mas se segurem, Phelps e Bolt.
No pôster dos maiores atletas da Rio-2016, a nata da nata, parece que vocês vão ter companhia…
Simone Biles
Rio-2016
ouro – individual geral, equipes, salto
trave? solo?
Larisa Latynina (URSS*)
*ucraniana
Melbourne-1956
ouro – individual geral, equipes, solo, salto
prata – barras assimétricas
Roma-1960
ouro – individual geral, equipes, solo
prata – trave, barras assimétricas
bronze – salto
Tóquio-1964
ouro – equipes, solo
prata – individual geral, salto
bronze – trave, barras assimétricas
Vera Caslavska (Tchecoslováquia*)
*tcheca
Tóquio-1964
ouro – individual geral, trave, salto
prata – equipes
México-1968
ouro – individual geral, solo, barras assimétricas, salto
prata – equipes, trave
Nadia Comaneci (Romênia)
Montreal-1976
ouro – individual geral, trave, barras assimétricas
prata – equipes
bronze – solo
Moscou-1980
ouro – trave, solo
prata – individual geral, equipes
Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.