Topo

Todos acertam na ida de Gabriel Jesus para o Manchester City

Julio Gomes

03/08/2016 22h22

Gabriel Jesus poderia ficar muitos anos no Palmeiras, como Neymar ficou no Santos. Ou poderia ter ido embora antes mesmo de se firmar no time titular. O primeiro caso foi exceção (e sabemos que muita gente se deu bem nessa exce$$$$$ção). O segundo caso, tem virado regra.

No caso de Gabriel, temos quase um meio termo. Ele terá um ano completo na elite do futebol brasileiro. Veste uma camisa grande, que tem uma rara chance real de ganhar o campeonato nacional após 22 anos. É o principal nome do time. Tem um peso grande nas costas. Ao final do ano, irá conviver com o sucesso ou o fracasso.

Muitos clubes europeus acabam não se dando conta disso. A importância desta vivência na carreira de um jogador. Muitos saem daqui muito jovens, vão sendo integrados tão aos poucos por lá que acabam sucumbindo no primeiro momento de grande pressão.

É claro que apostar quando o garoto ainda é muito novo representa gastar menos. E é claro que integrar um jogador mais novo pode ajudar taticamente. O garoto ainda não tem tantos vícios e pode ser mais bem moldado para o futebol moderno. Não são motivos pequenos. São revelantes. Mas considero inestimável o ganho de pegar um jogador com mais "casca". Que já tenha sido elogiado e xingado, foco das atenções, testado técnica e emocionalmente.

Com a bagagem de uma Olimpíada em casa e se o Palmeiras conseguir se manter na briga pelo título até o final, Gabriel Jesus chegará ao City com uma bagagem interessante. Não tanto quanto a de Neymar. Mas interessante.

Para ele, será ruim chegar ao clube no meio da temporada? Se a expectativa for "chegar jogando", sim. Se a cabeça for "se adaptar a tudo nos primeiros seis meses e começar a todo vapor a temporada 2017/2018, para arrebentar e ir à Copa do Mundo", chegar em janeiro não é problema.

A Premier League é uma liga muito intensa, pegada e que não protege jogadores como Gabriel Jesus. Esse é um lado ruim. Na Inglaterra, a imprensa tem pouco acesso, não há a mesma "invasão" e a intensidade de elogios/críticas que vemos na Espanha, por exemplo. Esse é um lado bom.

Mas bom mesmo, o melhor de tudo para Gabriel Jesus, é trabalhar com Pep Guardiola.

Esse é o homem mais à frente de seu tempo no futebol. Guardiola cria tendências, não copia e segue a boiada. É um gênio. Se um gênio te liga para trabalhar com ele, você vai.

Com o que fez em Barcelona, Guardiola mudou a cara do futebol. Pressão de todos os jogadores na frente, posse de bola como melhor forma de se defender, tudo aquilo que já sabemos. Foi alcançado, a coisa é dinâmica. E vimos uma Eurocopa em que as equipes estão simplesmente se anulando além da conta. Guardiola já viu, pois, a necessidade de priorizar a presença de jogadores que desequilibrem a mesmice. Gerar certa anarquia dentro da organização.

Tentou com Douglas Costa no Bayern. Foi bom. Não espetacular, mas bom. "Deu" um jogador para a seleção brasileira com a evolução rápida em Munique. E agora quer fazer o mesmo com Gabriel Jesus. Ele não é um ponta, mas pode jogar assim. É um projeto de atacante moderníssimo, de velocidade e ótima finalização. Mete gols. No City, há poucos que metam gols.

Para o Palmeiras, seria melhor segurar Gabriel Jesus por muitos anos. Esta simplesmente não é a realidade. Portanto, contar com ele por seis meses para tentar o Brasileiro e ainda ganhar uma belíssima grana não parece mau negócio.

Bom para o Palmeiras, ótimo para o City, espetacular para Gabriel Jesus. Um raro negócio em que todos se dão bem.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Todos acertam na ida de Gabriel Jesus para o Manchester City - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


Julio Gomes