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Messi é vilão e vítima. E sabe que esse erro é para sempre

Julio Gomes

27/06/2016 00h14

Messi é vilão e vítima ao mesmo tempo.

É claro que é vilão. Perdeu um pênalti na disputa final. Logo após o melhor jogador chileno perder o dele. Não conseguiu ser decisivo na final da Copa do Mundo. Nem da Copa América. Nem da outra Copa América.

Claro, no futebol poucos se lembram de tudo o que acontece nas competições ANTES da grande final. A Argentina chegou a três decisões em três anos. Possivelmente não teria acontecido o mesmo sem Messi.

E aí é quando ele vira vítima. Vítima de um futebol que mudou, ainda que custe tanto a muitos entender. Um futebol em que o jogo coletivo é mais forte que o indivíduo.

A Argentina é uma grande seleção. Mas o Chile é mais time há mais tempo. Não no um a um. Mas no todo. Assim como a Alemanha era dois anos atrás.

Coletivamente, o Chile é há uns bons quatro anos a melhor seleção da América do Sul.

Messi não amarelou. Quem amarela é quem se esconde. É quem não tem coragem de fazer em um determinado momento aquilo que faz sempre. Messi não se escondeu em nenhum momento. Chamou o jogo, buscou, tentou, quis. Mas não teve parceiros, possibilidades para triangulações. Recebia a bola e tinha de jogar contra quatro, sem opções de passes. É duro.

A harmonia e o entrosamento chilenos fizeram muita diferença.

Messi, como eu disse, é vilão e vítima ao mesmo tempo. É um jogador monstruoso, mas que possivelmente vai ter de se aposentar sem ganhar um título pela seleção principal da Argentina, apesar de ser o maior artilheiro dela. A noite de domingo, em Nova Jersey, vai martelar sua cabeça até o fim dos tempos.

Porque ser gênio tem bônus e também ônus. Seria o herói se ganhasse. É o vilão na derrota. Para deleite de quem vive na inveja.

A Argentina perdeu na final em quatro das últimas cinco Copas Américas. Três destas derrotas foram nos pênaltis. Como também foi a eliminação para o Uruguai, em casa, nas quartas de final de 2011. São quatro Copas perdidas nos pênaltis. Culpem o Messi.

O primeiro tempo era todo da Argentina. Muito mais incisiva, dentro do jogo, impedindo que o meio do Chile trabalhasse. Higuaín, para variar, assim como na final de 2014, no Maracanã, se aproveitou de um erro defensivo para ficar cara a cara e… perder um gol feito (culpem o Messi).

Após o primeiro grande erro de Heber Roberto Lopes, ficou ainda melhor para a Argentina. Parecia até que seria fácil, o Chile não finalizou uma vez sequer a gol.

O erro de Heber foi expulsar Díaz, que havia recebido um correto amarelo por falta em Messi. Mas que não merecia o segundo em uma obstrução normal de jogo. A partir daí, o árbitro brasileiro, com enorme tendência a querer ser protagonista, se perdeu.

A expulsão direta de Rojo foi uma clara compensação, para deixar o jogo em 10 contra 10. Foi o segundo grande erro (culpem o Messi).

No segundo tempo, Heber baixou a bola. Ainda bem.

O Chile dominou completamente as ações, sempre capitaneado por Vidal, um monstro em campo. Um jogador todo terreno, sombra de Messi e articulador das jogadas de ataque, seja com passes longos ou curtos. A parceria de Vidal e Aránguiz fazia o Chile tomar conta do meio de campo e do jogo.

Tata Martino percebeu rapidamente e trocou Di María (baleado, também para variar, deve ser culpa do Messi) por Kranevitter. Reequilibrou as coisas no meio. Banega passou a aparecer mais, se associando com Messi, e Aguero trouxe uma mobilidade que Higuaín não trazia mais. A Argentina melhorou, mas não o suficiente para apertar.

Com o cansaço, passes errados aqui e ali e tanto espaço disponível, tanto os minutos finais quanto a prorrogação nos deram a impressão de que qualquer um poderia marcar em um lance qualquer. O jogo estava aberto, quebrado. Romero e Bravo fizeram, um cada um, defesas gigantescas já no tempo extra.

No fim, apesar do 0 a 0, foi um ótimo jogo de futebol. Intenso, bem jogado e brigado. Sobrou Heber, que poderia ter pendurado uma melancia no pescoço, em vez de mostrar os vermelhos que mostrou no primeiro tempo. E faltaram gols, que teriam dado outra dinâmica à partida.

Foi nos pênaltis, de novo, a definição entre as duas melhores seleções do continente (de longe, por sinal, e as finais consecutivas não deixam dúvidas).

E aí Messi perdeu o dele. Biglia também. Culpem o Messi.

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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