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Obrigado, Kobe

Julio Gomes

14/04/2016 03h39

Sou um amante da NBA desde os mesmos tempos de todos os brasileiros com mais de 35 anos que gostam da liga. Desde a expansão internacional da NBA, as primeiras transmissões para o Brasil e o posterior o surgimento da TV a cabo. Lá pra 1989, 1990.

Sou, portanto, da geração Michael Jordan. Ainda que, sei lá por que, tenha escolhido o Boston Celtics para torcer. Ligava pra isso na adolescência, hoje não ligo mais. Hoje, torço por quem me agrada mais. E pelos meus jogadores nos Fantasies da vida.

Como qualquer amante que se preze, me emocionei ontem à noite com a despedida de Kobe Bryant. Não quero entrar aqui no debate Kobe vs LeBron, mas, por estilo, nunca houve um jogador que se aproximasse tanto de Jordan como Kobe.

Ao vê-lo fazer 60 pontos, algo tão raro que ninguém tinha feito na atual temporada… ganhar o jogo final com essa porcaria de time que tinham os Lakers na quadra… ser abraçado por todos, os atuais e antigos companheiros… os beijos nas filhas… o discurso de despedida… o "Mamba out". Putz. Emocionou.

Veio um filme na cabeça. Aquela madrugada de janeiro de 2006, dez anos atrás, a noite dos 81 pontos. Lembro que morava na Espanha e lá havia a transmissão de pelo menos um jogo da NBA todas as noites, uma oportunidade que não tinha no Brasil e antes do advento do League Pass. Com o fuso horário, os jogos começavam 2, 3, às vezes 4 da manhã. Sei lá por que cargas d'água assisti àquele Lakers x Raptors. Era ver história ao vivo. 81 pontos. OITENTA E UM.

A noite de despedida foi muito parecida. De repente as bolas entram todas, ninguém mais arremessa, só dá a bola para ele, o cara vai e guarda. Uma. Outra. Outra. Será que chega a 40? Siiim… Será que chega a 50? Siiim… Será que chega a 60??? Siiiiim…

E aí me lembrei daquele mês de julho de 2008, em Macau.

Eu trabalhava para o portal Terra na época, estava em Macau para cobrir a aclimatação das equipes brasileiras de natação e atletismo para a Olimpíada de Pequim, que começaria em agosto. E aí, por pura coincidência, haveria por lá um par de jogos da seleção americana de basquete treinando para a competição olímpica.

Depois dos papelões nos Mundiais de 2002 e 2006 e na Olimpíada de 2004, os americanos estavam em busca do resgate. O supra sumo da NBA havia sido chamado para que a medalha de ouro mais importante para o país fosse recuperada. Na turma, Kobe Bryant.

Não sou de tirar fotos com esportistas e entrevistados. Mas não pude resistir.

O cara era a simpatia em pessoa. Falou de todos os assuntos. Falou de Marta, de Ronaldinho, de Oscar, de futebol. Atendeu a todos os repórteres (maioria brasileiros), pacientemente respondeu, tirou fotos, bateu papo. Fiquei absolutamente impressionado com a humildade de quem era, naquela época, o maior nome do basquete e um dos três maiores nomes da Olimpíada que estava por vir (ao lado de Ronaldinho e Roger Federer).

O Kobe Bryant que eu "conheci" naquele dia foi um desses personagens que te fazem ver como é possível ser um monstro e manter o respeito, o olho no olho, tratar as pessoas como elas merecem, não como formigas insignificantes.

É uma pena não poder vê-lo na nossa Olimpíada do Rio. Não poder mais vê-lo jogar. Ficam as memórias. E um simples "muito obrigado". O esporte precisa de mais ídolos como Kobe.

 

 

 

 

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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