Atlético sublime. Mas 2 erros deixam a Liga no colo do Barça
Julio Gomes
30/01/2016 14h56
Muita gente já tentou marcar o Barcelona lá em cima ao longo dos anos. Algumas vezes, gols saíram assim. Pressão nos zagueiros e goleiro, erro de passe, pum. Gol.
Muita gente já tentou marcar o Barcelona se defendendo com 11 dentro da área. Estacionando o ônibus, fechando a casinha, montando o ferrolho, há muitas definições para esse método de defesa.
O difícil é encontrar um meio termo entre os dois sistemas, que funcione ao longo de toda uma partida. Foi o que o Atlético de Madri fez neste sábado no Camp Nou, nos primeiros 25 minutos de jogo. Diego Simeone montou o sistema defensivo mais sólido do planeta atualmente. Podemos até dizer que o sistema mais sólido dos últimos três, quatro anos.
É fácil mandar o time marcar na frente ou atrás. O que não é nada fácil é sincronizar movimentos para que as duas coisas aconteçam. Quando a bola ficava muito afundada nos pés de Piqué, Mascherano e Bravo, o Atlético avançava com quatro, cinco, seis jogadores. Quando o Barça saía do sufoco, de repente, os 11 homens colchoneros já estavam fechando todos os espaços em três linhas compactas. É muito treino, muita coragem e muito esforço coletivo.
Com justiça – e com um providencial roubo de bola no campo de ataque -, o Atlético vencia o jogo na primeira metade do primeiro tempo. O Barça não fazia absolutamente nada em campo.
Mas pouco a pouco foi ganhando terreno e envolvendo Iniesta. Rakitic abriu seu posicionamento, Messi voltou para buscar jogo. E as coisas começaram a mudar. Se de um lado havia uma defesa sublime, do outro tem um ataque sublime. A linha de passe funcionou, espalhou a defesa do Atlético e Messi, que parecia querer jogo desde o início, empatou.
Aí ocorreram os dois erros que acabaram com o jogo do Atlético e jogaram a Liga no colo culé.
Primeiro, o do jovem zagueiro uruguaio Giménez. Que permitiu um lance básico do ataque do Barça. Bola em profundidade para Suárez, que invade a área e bate cruzado. Jogada repetida diversas vezes ao longo do último ano e meio. 2 a 1.
Ali, acabou a partida. Os erros de Giménez e Filipe definiram uma partida enroscada e equilibrada.
É verdade que Griezmann ainda perdeu gol feito no segundo tempo. Mas, mesmo antes da expulsão de Godín, era difícil imaginar que o Barcelona não fosse buscar mais gols.
O campeonato, agora, fica nas mãos do Barcelona. São três pontos de vantagem para o Atlético, com um jogo a menos e ainda a vantagem nos confrontos diretos (se acabar o campeonato empatado com o Atlético, é campeão, pois este é o primeiro critério de desempate). E são sete pontos de vantagem para o Real Madrid, e também com a vantagem do empate (goleou no turno, não será goleado no returno).
Na prática, o Barça tem sete pontos de frente para o Atlético e oito para o Real Madrid. Só perde o bicampeonato se quiser.
Apesar do milagre de 2014 nos pontos corridos, o Atlético de Madri parece representar mais risco em uma competição de mata-mata, como a Champions League.
Mostrou, nos primeiros 25 minutos no Camp Nou, que pode encarar qualquer um. Com 9, perdeu só de 2 a 1 contra o melhor ataque do mundo e teve goleiro na área tentando gol de cabeça aos 44min do segundo tempo. Pode ganhar partidas de futebol de várias maneiras diferentes. É um time brilhante, dentro de sua limitação. Montar esquema vencedor com um monte de jogador bom não é fácil. Mas fazer o mesmo com jogadores, digamos, "mundanos", tem muito mais mérito.
Os primeiros 25 minutos foram, também, uma espécie de cartilha para quem quiser tirar o título europeu do Barcelona. Não há dúvidas que servirão como material de estudo, especialmente para o Bayern de Munique e Pep Guardiola.
Só que, como vimos, 25 minutos não são suficientes. É preciso defender de forma sublime por 90 ou até 180 minutos para parar o Barcelona.
Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.