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Sem Neymar, Brasil vira franco atirador e joga sem peso contra a Alemanha

Julio Gomes

05/07/2014 00h29

Antes de falar do passado, é importante (mais importante, na verdade) falar do futuro. O que será do Brasil sem Neymar?

Há pontos negativos, logicamente, bastante negativos. Mas há também algo de positivo que pode ser aproveitado por um mestre da arte: Luiz Felipe Scolari.

É verdade que Neymar começou a Copa fazendo um gol importantíssimo para virar o jogo contra a Croácia. E que, depois de não furar o mexicano Ochoa, voltou a ser importante contra Camarões. Mas aí fez dois maus jogos nas dramáticas classificações contra Chile e Colômbia.

Neymar teve pouco a ver com o sucesso do Brasil nas duas eliminatórias contra sul-americanos. Contra o Chile, levou um tostão logo no início da partida e não conseguiu superar as dores – sumiu do jogo. Contra a Colômbia, tampouco conseguiu encontrar espaços e ser decisivo.

Isso não quer dizer, de maneira alguma, que ele não seja importante para o time – qual seria o tamanho da insanidade de dizer isso? Neymar é importantíssimo por 1) ser o gênio que pode romper uma partida a qualquer momento; e 2) como tal, ser um cara que precisa ser marcado de perto por qualquer adversário.

É mais ou menos assim: por causa de Neymar, técnicos mudam sistemas, sacrificam jogadores que poderiam fazer algo mais em campo. Sem ele, algumas medidas defensivas deixam de ser necessárias.

Mas, dito tudo isso, o Brasil mostrou que pode superar desafios "praticamente" sem ele. Porque assim foi contra Chile e Colômbia.

O que há de positivo?

Vejam, o simples fato de estar na semifinal contra a Alemanha tira parte do peso da responsabilidade desse grupo super jovem de jogadores.

O Chile é um belíssimo time de futebol. A Colômbia, idem. Em termos de bola, não seria vexame perder para nenhuma destas duas seleções. Mas, para a história, esta seria a palavra que ficaria. O país pentacampeão do mundo, de onde saíram alguns dos maiores jogadores de todos os tempos, não poderia ser eliminado tão cedo de sua Copa em casa por um dos vizinhos. O vexame está afastado de vez.

Porque ser eliminado pela Alemanha na semifinal… quem poderia recriminar um grupo tão jovem por isso? O Brasil já fez o "mínimo". A partir de agora, poderia conquistar tudo. Ou não chegar lá, mas, ainda assim, de forma digna.

Sem Neymar, não é parte do peso da responsabilidade que sai dos ombros desta seleção. É literalmente toda a responsabilidade. Se o Brasil ganhar a Copa, terá sido de forma heróica, por Neymar. Se o Brasil perder a Copa, terá sido por não ter Neymar. Será aplaudido, aconteça o que acontecer contra a Alemanha ou em uma eventual decisão.

Se tem alguém que saberá trabalhar este lado emotivo é Luiz Felipe Scolari.

Em termos táticos, são basicamente duas opções. Uma, mais natural, é colocar Willian no time. Um jogador que fez uma temporada fantástica no Chelsea, treinou muito bem durante todo este período com a seleção e tem qualidade de sobra. Willian não é Neymar. Ninguém é Neymar. Mas também sabe jogar colado ao lado de campo, tem senso tático de marcação, tem drible, tem finalização.

E tem algo importante, que Neymar não tem. A retenção de bola no meio de campo. Willian é essencialmente um meia, que pode determinar o ritmo do jogo e ajudar o time em um departamento que fracassou até agora na Copa e onde a Alemanha é muito forte.

A outra opção é Ramires. Um jogador mais defensivo do que Willian, bastante menos brilhante, que traria mais consistência na marcação. Jogar com Luiz Gustavo, Ramires e Fernandinho por trás de Oscar, Hulk e Fred seria a opção. Seria jogar para se defender, buscando alguma bola que pudesse fazer dano nas costas de uma defesa alemã que joga bem avançada.

A Alemanha é uma seleção paciente, com um goleiro sensacional e que atua na sobra da defesa adiantada. O meio de campo é recheado de jogadores de qualidade com a bola. Eles também perderam uma espécie de Neymar deles, Marco Reus, o jogador mais brilhante e capaz de quebrar sistemas rivais. Mesmo assim, a enorme quantidade de jogadores bons no meio chega a assustar.

Minha aposta é que Scolari irá de Willian, para equilibrar este domínio alemão no setor e ter alguma criatividade que faça dano no ataque. Treinos no domingo e na segunda-feira, em Teresópolis, darão uma ideia do que o técnico fará.

Scolari, por sinal, admitiu após o jogo que o Brasil não só apanhou, mas bateu também. Aliás, não fosse a lesão de Neymar, é bem capaz que estivéssemos discutindo até que ponto a seleção foi beneficiada pela péssima arbitragem do espanhol Carlos Velasco Carballo.

O Brasil tinha seis jogadores pendurados em campo, entre eles Neymar e Thiago Silva. Desde o início do jogo, não escondeu a tática de parar James Rodriguez de todas as maneiras – Fernandinho deixou um cartão de visita atrás do outro ao jogador mais brilhante da Colômbia.

A intenção de Carballo era claramente a de não mostrar cartões. Em nome de preservar a semifinal, ele estragou a partida de quartas de final – e afetou o resto da Copa. Em vez de amarelos, ele apitou tudo quanto era lance, inclusive não faltosos. Resultado: incríveis 54 faltas, número típico de Campeonato Brasileiro. Só que são cartões que evitam a violência no esporte, e não ficar apitando faltinhas.

O jogo descambou ainda mais no segundo tempo. Thiago Silva, antes de levar o bobo cartão que levou, havia dado uma entrada digna de amarelo. Zuniga, que tirou Neymar da Copa, poderia ter sido amarelado por uma entrada em Hulk no primeiro tempo. O pau literalmente comeu solto durante o jogo todo. Quando árbitros não fazem o trabalho deles, entradas duras ocorrem e, consequentemente, lesões.

A arbitragem de Carballo foi benéfica ao Brasil contra a Colômbia, pois permitiu que a estratégia de faltas desse certo para o time que comandava o placar. Mas acabou na maior punição possível para a seleção brasileira: a perda de seu maior craque.

Zuniga quis machucar Neymar? Eu nunca acredito que um profissional queira machucar seriamente outro. Eram momentos finais do jogo, o cara foi para fazer a falta e evitar o contra ataque brasileiro. Falta dura, feia, mas como muitas outras que vimos ao longo dos 90 minutos (por culpa do árbitro, repito). Deveria ter sido punida com cartão. Mas estaríamos falando dela, não fosse a lesão de Neymar?

Se o Brasil não ganhar a Copa, Zuniga será o grande vilão. Ainda há tempo, no entanto, para que seja apenas mais um personagem secundário, e não protagonista, a passar pela história do futebol brasileiro.

 

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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