Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo em 2013
Julio Gomes
19/11/2013 20h14
Antes de falar de eleições de melhor do mundo, eu acho sempre importante ressaltar o seguinte: a Bola de Ouro tem que ser dada ao melhor jogador de futebol do ano natural. E não ao melhor jogador do mundo de forma genérica.
Não importa que X seja melhor que Y. O que importa é que X esteja melhor que Y ao longo do ano. Estar é o verbo mais importante. Não o Ser.
Por isso, por exemplo, eu daria meu voto a Wesley Sneijder para a Bola de Ouro 2010, que acabou sendo levada por Lionel Messi. É lógico que Messi era melhor que Sneijder. Mas a questão era: em 2010, quem havia sido superior? Para mim, Sneijder. Para quem votou, Messi.
Em 2013, não há como não dar a Cristiano Ronaldo o voto de melhor do mundo. Ele ficou bravinho de perder para Messi as quatro últimas. Ficou bravinho sem razão. Mas, em 2013, será uma grande sacanagem se não ganhar. Messi fez um ano bom? Claro que fez. O cara é um gênio. Mas caiu em relação aos outros anos. E Cristiano Ronaldo não só manteve um nível impressionante, números alucinantes, como acrescentou a tudo isso jogos decisivos com a camisa de Portugal.
A partida de Estocolmo é para ser vista e revista. Primeiro, chamo a atenção para a atuação muito boa de Portugal coletivamente. Como eu disse no meu post anterior, não existe individualidade que resolva sem um bom futebol coletivo. Sabendo que a Suécia teria problemas para criar jogo, Portugal assumiu o controle desde o primeiro minuto. Sempre jogando pela direita, desta vez em uma boa noite de Nani. E sem Cristiano Ronaldo isolado na esquerda, como em Lisboa. Claro, em um jogo com mais chances de contra ataque, Cristiano se transforma na arma mais poderosa do mundo.
Com 1 a 0 e jogo controlado, Portugal bobeou. Em 5 minutos, deu vida à Suécia. Primeiro, falharam Pepe e Bruno Alves na marcação a Ibra em escanteio. Depois, a falta imbecil de Miguel Veloso gerou o empate. Ibra, sim, resolveu sozinho o que seu time não conseguiu construir coletivamente.
Por 3 minutos, parecia que tudo poderia mudar. Mas a coisa ficou definida logo no primeiro contra ataque. Chamo a atenção para a exata noção de espaço de Cristiano Ronaldo, mudando de velocidade para não ficar impedido. E depois, com pé esquerdo, em velocidade, finalizando de forma perfeita. É um gol muito difícil. Muito mesmo.
Dos jogadores brasileiros que eu vi jogar e que fariam a mesma coisa, só me vêm à cabeça os nomes de Ronaldo, Romário e Careca. Infelizmente, nossas bases não têm esse tipo de ensinamento. O cara corta para o pé bom, vai de encontro ao zagueiro, tenta arrumar um pênalti… O que Cristiano Ronaldo fez neste segundo gol não se faz há muitos anos em terra brasilis. Uma pena. Foi feito um dia. Não se faz mais.
São mais de 60 gols, média de 1 por jogo. Jogando em altíssimo nível, futebol competitivo de verdade.
Cristiano Ronaldo tem drible, finaliza com os dois pés, de cabeça, bate falta. Tem velocidade, é um verdadeiro portento físico. Não se machuca, treina, encara todos os jogos como se fosse o último, não faz corpo mole. É o atleta perfeito, enfim. É o LeBron James do futebol nos tempos atuais. Tem gente que não gosta, que acha muito mecânico, que acha muito militar (né, seu Blatter?). Tem gente que sente falta de certa "fantasia" no jogo dele.
Eu não sinto falta de nada.
Estou muito feliz com a classificação de Portugal, que será uma das histórias em nossa Copa, ano que vem. Uma seleção boa com um jogador extraordinário, certamente ótima recepção fora de campo e torcida dentro dele. Se der sorte com cruzamentos, etc, Portugal pode beliscar uma vaguinha nas quartas ou até uma semifinal.
Que venha Cristiano Ronaldo! E que venha com a Bola de Ouro. Ele merece.
Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.