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CR7 1-0 Ibra. Craques sofrem, somem e lembram da vida dura

Julio Gomes

16/11/2013 06h00

Uma das coisas mais bacanas do futebol é a maneira como ele está constantemente, o tempo todo, nos lembrando que é um esporte coletivo, não individual. Nós cometemos esse grande erro de individualizar tudo. Na F-1, piloto e carro viram coisas diferentes. No futebol, um erro, um acerto, um craque, um grosso. Tudo é analisado e discutido de forma individual. Os prêmios são para indivíduos, não para times ou setores.

Então, quando se fala em Portugal x Suécia disputando uma vaga na Copa do Mundo, logo o jogo vira Cristiano Ronaldo x Ibrahimovic. Que erro enorme.

Os dois são craques, jogadores diferenciados, os melhores de seus times, qualquer que seja o time em que joguem. Mas nunca podemos nos esquecer que eles estão inseridos em um contexto coletivo. Ontem, em Lisboa, os dois provaram mais uma vez o gosto amargo de estar do outro lado do que geralmente estão, ao lado de companheiros não tão bons, com quem o entrosamento não é perfeito, de quem as bolas chegam quadradas.

Cristiano Ronaldo fez o gol da vitória de Portugal, é verdade. Individualmente, sempre um gênio do futebol poderá fazer acontecer algo que não aconteceria no caso dos outros terráqueos. Mas não foi um bom jogo de Cristiano. No primeiro tempo, Portugal manteve a posse de bola, atacou sempre pela direita e "esqueceu" de Cristiano que, lógico, tinha marcação redobrada na esquerda.

A Suécia fazia uma ótima transição, roubando a bola e saindo em alta velocidade para o ataque. Assim, criou mais chances de perigo do que Portugal. Ibra participou só de uma delas, fazendo uma corta luz que permitiu boa finalização de Larsson (haja Larsson na Suécia…).

No segundo tempo, Portugal passou a jogar pelos dois lados do campo e acionou mais Cristiano Ronaldo. Ainda assim, foi um jogo frustrante para ele, não fosse o gol. A Suécia se acovardou, quis o 0 a 0 e levou o gol. Justo, pelo que fez Portugal e pelo que não fizeram os suecos.

E aí alguém dirá que "Ibra não jogou nada". E é verdade. Mas não podemos nos esquecer do contexto. O time da Suécia não jogou nada. No primeiro tempo, Ibra segurou zagueiros na área e permitiu que o campo abrisse para os outros três atletas ofensivos chegarem à frente. No segundo tempo, o jogo não foi para o ataque da Suécia. Não jogou nada? Não. Mas é diferente jogar mal de não ter o jogo chegando até você.

No caso de Cristiano Ronaldo, foi um pouco diferente. Tecnicamente, o craque do Real perdeu bolas, bateu muito mal uma falta que estava boa para ele. Errou mais, enfim. Só que também acertou e, assim, definiu a partida.

Vivemos a era em que times são melhores do que seleções, simples assim. O Real Madrid e o Paris-Saint Germain são, possivelmente, times melhores do que qualquer seleção do mundo. Qualquer uma. É muito mais fácil para Cristiano Ronaldo jogar com os jogadores do Real Madrid do que os de Portugal. É muito mais fácil para Ibra jogar no PSG do que na Suécia. A engrenagem é outra. São os times rivais que sofrem.

Em Lisboa, como ao longo de toda a eliminatória, eles provaram do veneno. Jogam em times médios, sofreram, como sofrem tantos outros ótimos jogadores que simplesmente não estão em times tão bons quanto eles. Um dia eles jogaram em times ruins. Mas faz tanto tempo, mas tanto tempo, que deve ser dureza lembrar o que fazer nessas situações.

Daí, vermos o Portugal e Suécia de ontem e ficarmos decepcionados. Normal. É o futebol, sempre encontrando um jeito de nos contar que ele não é o que parece ser. Ou que alguns acham que ele é.

 

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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