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Felipão tem que convocar Diego Costa. Nem que seja por reserva de mercado

Julio Gomes

28/09/2013 18h50

Diego da Silva Costa.

Craque? Não. Gênio? Não. Limpo? Não. Jogador de seleção? Sim.

Não dá para ignorar o que esse rapaz de 24 anos, nascido em Lagarto, no agreste sergipano, está fazendo com a camisa do Atlético de Madrid. O detalhe é que Felipão não ignorou, quando o convocou para os amistosos contra Itália e Rússia, no primeiro semestre. Mas ele estava machucado, fora da melhor condição para atuar. E aí Fred meteu gols naqueles jogos. E aí foram Damião e, depois, Jô para a Copa das Confederações. E agora, Pato é a bola da vez.

Só que nenhum desses citados está sendo assediado para defender a seleção espanhola. Uma seleção campeã do mundo, é verdade, mas que carece de jogadores potentes no ataque. Fernando Torres está em litígio com o gol há alguns anos, David Villa tem o peso da idade nas pernas. Negredo, Llorente, há alguns bons atacantes. Mas nenhum dele emplaca no sistema tiki-taka de Vicente del Bosque.

Vicente sabe que precisa de algo novo, precisa de sangue novo, de um toque de picardia em um time que muitas vezes mostra-se acomodado e de barricha cheia. A Copa das Confederações foi um toque de atenção para a Espanha. Se jogar em marcha lenta a Copa do Mundo, será atropelada, como foi na decisão do Maracanã.

E o tal Diego Costa é a bola da vez. O cara tem oito gols marcados em sete jogos, é artilheiro do Campeonato Espanhol ao lado de Messi. Neste sábado, fez o gol da vitória mais saborosa que o Atlético de Madrid pode ter: no Santiago Bernabéu, contra o inimigo eterno, o Real Madrid. Vitória que não vinha havia 14 anos, um tabu para lá de insuportável  para os colchoneros. Fez o gol, quase fez outro, arrumou amarelos para a defesa inteira. Como ele incomoda!

É aquele típico jogador amado pelo torcedor do time dele, odiado por todos os outros. Provocador, entra em todas as divididas, deixa o pé, deixa o braço. E tem a incrível capacidade de arrumar mais amarelos e expulsões para os outros do que para ele mesmo. É que os adversários ficam irritadíssimos com a presença dele, a maneira como disputa as bolas, bate boca, xinga, retruca, provoca. Vira e mexe, algum bobo cai na armadilha.

Diego tem só 24 anos. É mais um que saiu cedo, dos tantos que nosso futebol é incapaz de formar, lapidar, segurar, fazer brilhar em nossos campos. Logo aos 17, estava do Braga, de Portugal. Logo foi contratado pelo Atlético de Madrid, mas acabou sendo emprestado e dando uma bela rodada pela Península Ibérica. Esta é a segunda temporada dele como titular fixo no Atlético. No ano passado, foi o parceiro perfeito para Falcao García. Agora, com Villa no lugar de Falcao, Diego Costa chamou para si a responsabilidade de ser o cara do time de Simeone. E está sendo.

Imagine o jogador mais antagônico possível a Alexandre Pato. Enquanto um tem boa técnica, muito nome, alguns bons gols, mas some de maneira impressionante em várias partidas, o outro é o contrário total. Nem tanta técnica, nada de nome, gols feios, mas está sempre lá e tem muita inteligência futebolística. Não se esconde durante um minuto sequer. Diego Costa é muito mais cara de Felipão do que Pato. Mas muito mais. Pato sai de campo às vezes com o penteado idêntico ao do minuto um. Diego Costa sai esgotado de todas as partidas.

Não é um jogador para uma Copa do Mundo. Pela idade que tem, é de duas ou três. Será que o Brasil, que não está com essa bola toda, pode se dar ao luxo de "reforçar" a seleção mais vencedora dos últimos seis anos? Às vésperas de um Mundial… aqui mesmo no Brasil?

Quem só tem olhos para o futebol daqui, costuma achar que todo mundo que está fora do país é grosso (salvo alguém que tenha saído daqui já como craque, tipo Paulinho e Neymar). O pessoal sempre acha que o artilheiro daqui é tão bom quanto o de lá, sem se dar conta que o nível de jogo daqui é bastante inferior ao de lá.

Você pode até não gostar de Diego Costa. Mas Felipão precisa convocá-lo. Nem que seja por reserva de mercado…

PS1: Não lembro de Felipão reclamar das nacionalizações de jogadores quando ele levou Deco e Pepe para a seleção portuguesa.

PS2: Os críticos do Espanhol adoram bater na tecla de que é um campeonato de só dois times e que os outros 18 todos são uma porcaria. Pois bem. o Atlético ganhou sete de sete, tem os mesmos 21 pontos, os mesmos 100% de aproveitamento do Barcelona. O Real Madrid ficou cinco para trás. Não dá para ignorar o que faz o time de Diego Simeone. O Atlético de Madrid está dentro, muito dentro da briga por um título que não vem desde 1996. Quando Simeone jogava. Lembram dele? Sujo pacas. Como um certo atacante de Lagarto.

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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