Brasil encontra gols e mais dois jogadores com "casca" para a Copa
Julio Gomes
07/09/2013 19h03
Felipão não é bobo. Ele sabe que ganhar uma Copa do Mundo só com a molecada é missão quase impossível. Se não impossível, inédita. Nunca acontece, porque o Mundial é um torneio que atrai os olhos de todo o mundo, literalmente, o que faz com a pressão seja, muitas vezes, insustentável.
É preciso "casca". É preciso ter gente por perto que saiba o que é uma Copa, detalhes em relação a rotinas de treinamento, do momento de brincar, o momento de treinar duro, o momento de relaxar, o momento de ir para cima do adversário. Saber o que representa uma vitória. O que significa uma derrota. Experiência é fundamental, isso está historicamente comprovado.
Espanha de 2010, um time calejado por derrotas que encontrou o caminho para as vitórias. Itália de 2006, após o papelão de 2002. O Brasil de 2002, com jogadores em busca da redenção após 1998. E por aí vai.
A busca por alguns jogadores para compor o grupo passa muito mais por isso do que pela necessidade técnica. Felipão tem um time pronto, o time da Copa das Confederações, e ele não vê, em nenhuma posição, necessidade latente de mudança. O que ele busca são reservas bons o suficientes para que haja certa pressão nos "donos" das vagas. E busca gente que já tenha passado por Copas, que possa agregar valor ao grupo nesse sentido.
A decisão número um foi apostar em Júlio César para o gol, aposta que deu certo. A número dois, escolher Fred (contra Luis Fabiano) para o comando de ataque, mais uma aposta na experiência. Do resto do time titular, só Daniel Alves tem Mundial no curriculum. É muito pouco. Hora de buscar.
Contra a Austrália, o Brasil jogou muito bem. Com intensidade, marcando com muita pressão desde o início e construindo os gols com naturalidade, coisa que não conseguiu fazer na Suíça. De novo, chave para tudo é marcar no começo e, a partir daí, se posicionar para contra atacar em velocidade. Felipão quer duas coisas do time: marcação pressão lá em cima e velocidade quando recuperá-la. A seleção tem feito isso cada vez mais e de forma mecanizada.
Mas o jogo serviu menos para ficar se lambendo com os 6 a 0. É legal ganhar assim de uma seleção que tem sua força. Antigamente, o Brasil fazia isso sempre e todo mundo desprezava na base do "jogamos contra ninguém". Ultimamente, lá se vão anos, o Brasil não ganha mais muitos jogos com essa facilidade. Mas o amistoso foi importante para mais coisas.
Serviu para Felipão encontrar Maicon, por exemplo. Ele perdeu tempo na Inglaterra, meio que largou tudo. Mas é um rapaz inteligente e percebeu que não havia lateral reserva para Daniel Alves. Está perdendo peso, arrumou um time legal para jogar, a Roma, e basta não fazer besteira e se manter em forma. Maicon é um "dunguista", um jogador de grupo, com muita experiência, que todo mundo gosta e respeita. Em 2010, era a vez dele. Em 2014, será a de Daniel Alves. Mas sua simples presença ajuda um grupo tão verde como este. É um "cascudo".
Ramires não tem a veterania de Maicon. Mas já esteve em Copa, joga na Europa, conhece os jogadores que o Brasil vai enfrentar em seu caminho. E mistura dois fatores: a experiência com a parte técnica. Ramires é um jogador que se encaixa como uma luva no que Felipão entende como o jogo ideal para o time. Marcação, recuperação e velocidade. Não é à toa que ele segue titular no Chelsea com José Mourinho, que também prioriza tais facetas do jogo.
Ramires ficou fora da Copa das Confederações por bobagem. Palmas para Felipão, que percebeu que o castigo já estava dado e não valeria à pena perder Ramires para a Copa do Mundo. Ele pode ser titular no lugar de Oscar, como hoje. Pode jogar pelos lados, no lugar de Hulk. Ou pode ser segundo volante, no lugar de Paulinho. É pau para toda obra… e da melhor qualidade.
Bernard não se encaixa no quesito experiência mas, sim, técnico. Já deu para ver que ele havia ganhado espaço de Lucas na Copa das Confederações, e a ótima partida contra a Austrália só confirma a tese. Jô também ganhou pontos, e o histórico de lesões de Fred abre caminho até para que o atleticano vire o titular da 9.
As coisas vão se encaixando para Felipão. Maicon e Ramires, para mim, são dois que garantiram o futuro hoje.
Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.