Neymar é a chave para amenizar a Messi-dependência
Julio Gomes
10/08/2013 11h59
Amistosos de pré-temporada precisam ser relativizados. Os jogadores estão voltando de férias, é sempre menor a fome de vitória em jogos que não valem pontos, há fuso horário, adversários às vezes que são mais tietes… enfim. Por outro lado, inúteis, eles não são, senão nem existiriam. São jogos, oras bolas. Chances para treinadores fazerem observações importantes sobre montagem do time, posicionamento, etc.
O Barcelona fez boa parte da pré-temporada sem os jogadores da seleção espanhola, Neymar e Daniel Alves. Começou mesmo, com técnico novo e time inteiro, naquele jogo contra o Santos, os 8 a 0. Depois, foi para a Ásia ganhar dinheiro. Fez 7 a 1 na Tailândia e, neste sábado, 3 a 1 no selecionado da Malásia.
Por mais que tudo tenha de ser relativizado, como citei no primeiro parágrafo, nota-se que o Barcelona sofre do mesmo "mal" que se acentuou na temporada passada. A tal "Messi-dependência". Messi foi poupado contra a Malásia, e a quantidade de gols diminuiu.
Foi Pep Guardiola quem percebeu que o posicionamento de Messi precisava mudar e transformou o argentino em um falso 9, um jogador que atua centralizado, mas sem ficar enfiado entre os zagueiros e com liberdade de movimentação. No buraco entre zagueiros e volantes, com toda a habilidade que ele tem, o drible curto, a explosão em velocidade, Messi virou o maior jogador de futebol dos últimos 15 anos. Da nossa era, enfim.
Só que o Barcelona foi se livrando de centroavantes ou transformando jogadores de frente em jogadores de lado, tudo em nome do sistema. Há de priorizar o sistema! Tenho convicção disso. Só que o esporte é muito dinâmico, os adversários observam, se ajustam, acham antídotos, e os sistemas precisam também de dinamismo. Guardiola foi um rei neste sentido. Em quatro anos, o Barcelona variou muito posicionamento, mais do que o jogo em si, para manter o domínio avassalador. Tanto o homem não é bobo que manteve o Bayern de Munique com um 9 puro, e Mandzukic segue metendo gols, jogo sim, jogo também. Guardiola tem crenças, mas não é um xiita, um refém de tais crenças.
Já Tito Vilanova, é verdade que atrapalhado pelos próprios problemas de saúde, só aprofundou o modelo estático do Barcelona. Agora cabe a Tata Martino, o novo treinador e que já montou times com diversos sistemas diferentes, encontrar a solução para tirar o Barcelona da Messi-dependência.
E Neymar é o homem chave para isso.
Neymar é a chave para o Barcelona se reencontrar com os gols. De todas as facetas do jogo do ex-santista, sem dúvida a que mais me encanta é sua facilidade para meter gols. Muito mais do que os dribles, do que a fantasia, do que o improviso, a melhor característica de Neymar é a finalização. Muita gente, quem critica e diz que Neymar é invenção da mídia paulista, o acusa de ser um novo Denílson ou um novo Robinho. Nem dá para ser. Os dois citados nunca fizeram, juntos, a quantidade de gols que faz Neymar.
O Barcelona realizou, contra a Malásia, um jogo igual aos outros dois. Posse de bola, domínio absoluto e riscos defensivos. Só que, sem Messi, não saíam os gols. O domínio não vira ação vertical.
Fábregas meteu o primeiro de cabeça, em um frangaço do goleiro. A Malásia, que já havia exigido uma bela defesa de Valdés, em bola que tocou na trave, empatou logo na sequência. Finalzinho do primeiro tempo, 1 a 1, time empacado. E aí surgiu a troca de posições, Fábregas caiu pela esquerda, achou Neymar na área e pumba, 2 a 1. Em uma bola que parece fácil, mas não é. Neymar domina já colocando na frente e tirando o zagueiro, depois toca de esquerda entre goleiro e trave, milimétrico. Um belo gol.
No segundo tempo, Neymar e outros foram substituídos. E o Barcelona seguiu no marasmo, aquele domínio sem criar perigo. Só fez o terceiro com Piqué, em posição duvidosa, já no fim.
Os problemas defensivos são claros, por isso o Barcelona tenta desesperadamente tirar David Luiz do Chelsea. O homem perfeito para a posição, pois é zagueiro, mas joga também como volante, tem saída de bola, chute de fora, estatura. E o problema da Messi-dependência precisa ser resolvido com Neymar e dinamismo. A bola está com Tata Martino…
Se esses dois problemas não forem resolvidos, a liga espanhola seguirá sendo uma realidade, foi temos a liga vivendo um desastroso momento de dois times separados dos outros 18 por um enorme canyon financeiro. No entanto, para batalhar pela retomada na Europa contra potências como Bayern, o próprio Madrid, PSG, os ingleses… o Barça precisa de uma pequena reinvenção. E dos gols de Neymar para desafogar Messi.
Sobre o Autor
Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.
Sobre o Blog
Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.