Os números são indiscutíveis. A coletiva de Júlio César, segunda-feira, é que causou discussão. O Brasil foi a seleção mais faltosa da Copa das Confederações na primeira fase. Dos cinco jogadores mais faltosos, três são brasileiros, sendo Neymar o mais de todos, incluindo Lugano e cia. Outros que desceram o sarrafo foram Oscar, Hulk e até Fred.

Os números são altos, não dá para achar que é coincidência. O jogo da seleção envolve pressionar e acaba em faltas. A polêmica aparece quando Júlio César diz: "Desde a entrada de Felipão na seleção brasileira, em jogos anteriores, nos amistosos, acabamos sofrendo alguns gols de contra-ataque. E uma coisa que ele pedia para a gente é parar a jogada".

A velha história do técnico pedindo para faltas serem feitas. Não consigo visualizar Scolari pedindo a falta pela falta, talvez a colocação do goleiro seja desproporcional à ordem. Talvez. O que se aproxima mais da realidade do que tenho visto foi o que Fred disse na terça-feira.

"Felipão não pede para fazer faltas, ele pede para ser agressivo desde lá da frente. Começar uma marcação forte. Quanto menos espaço a nossa equipe dá para o adversário, a bola chega menos limpa ao meio de campo da equipe adversária. Foi o que o Felipão mais pediu. Quando der para pegar lá em cima, marcar dois ou três na bola, muito bom."

A frase de Fred condiz mais com o que tenho visto na seleção, enquanto a frase de Júlio César condiz mais com times do passado de Scolari. Na Copa das Confederações, o Brasil tem abusado de uma marcação lá na frente. Quando rouba a bola, cria situações de maioridade numérica ou três contra três, dois contra dois. E aí, com a velocidade e o potencial ofensivo do Brasil, é meio gol.

Se a ideia é roubar a bola para ficar mais perto do gol, a ideia não pode ser fazer falta. Afinal, fazendo falta, o juiz para o lance.

Por que, então, tantas infrações?

Esse é o ponto onde quero chegar. Tantas faltas porque o atacante brasileiro simplesmente não sabe marcar. E aí caímos em um dos inúmeros problemas do processo de formação de jogadores de futebol no Brasil, problemas que são tapados com a peneira devido aos golaços lá na frente e aos resultados quase sempre bons das seleções de base.

Só que resultados não significam muita coisa quando se está no período de formação de jogadores. Quantos técnicos Neymar teve, ao longo da carreira, que tenham se preocupado em ensiná-lo a marcar? Será que, quando Neymar tinha 15 anos, seu treinador na época estava preocupado com isso ou preocupado em que Neymar metesse o gol da vitória? E Fred?

"O que não nós temos muitas vezes é atenção, posicionamento quando não temos a bola", contou Fred na véspera do duelo contra o Uruguai.

Exato!!!

O jogador brasileiro não é ensinado a jogar sem a bola, especialmente o atacante. É por isso que nosso futebol foi e é muito baseado em individualidades, não no jogo coletivo.

Oscar tem evoluído muito em termos de posicionamento, resultado claro da temporada no futebol inglês. Hulk fecha bem os espaços, também por isso ganhou a batalha com Lucas pela titularidade na equipe. Fred e Neymar, no entanto, contribuem muito mais com vontade do que outra coisa. Isso sobrecarrega Oscar na marcação feita no campo de ataque, o que gera mais faltas.

Marcar não é correr atrás. Marcar não é dar carrinho. Marcar não é fazer faltas. Marcar é marcar. Isso se aprende, se treina, se aprimora. Nossos atacantes não aprendem e nem treinam, na época em que precisam aprender e treinar. Não é culpa deles, é de uma outra falta de formação, a formação dos nossos treinadores de futebol. Mas isso é outro capítulo. Para hoje, o que temos são faltas, muitas faltas.