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Espanha aproveita ausência para testar esquema ultraofensivo nas Confederações

Julio Gomes

14/06/2013 14h19

Xabi Alonso é desses jogadores subestimados aqui no Brasil. No meio de tantas estrelas da seleção espanhola, Xabi não ganha o mesmo reconhecimento e, ainda por cima, joga no Real Madrid – é sempre o único jogador do Real do meio para frente, área dominada pelos barcelonistas. Pois Xabi Alonso é um dos principais jogadores do time de Vicente del Bosque, acreditem.

Na Eurocopa de 2008, com Luis Aragonés no comando, a Espanha, finalmente, se encontrou com um título gigante. Naquele time, Marcos Senna conseguiu fazer um imenso trabalho defensivo, o que permitiu que só um volante estivesse em campo, por trás de Xavi, Iniesta, Silva, Torres e Villa. Depois, com a chegada de Del Bosque e o envelhecimento e lesões de Senna, a Espanha mudou. Tanto na Copa de 2010 quanto na Eurocopa do ano passado, Del Bosque optou por dois homens lado a lado na cabeça de área: Busquets e Xabi Alonso.

Na Copa, foram diversos jogadores "sobrando" e sendo sacados, alternadamente, do time titular. Na Euro, "sobrou" para o camisa 9, e o time jogou sem um atacante fixo na frente. Deu certo dos dois jeitos.

Xabi Alonso é o grande desfalque da Espanha para a Copa das Confederações, que começa, para eles, domingo, contra o Uruguai (em Recife). O púbis não aguentou a longa temporada, e a Espanha fica sem um de seus jogadores chave. Xabi Alonso consegue executar como poucos as funções defensiva e ofensiva com a mesma qualidade. Defende bem, com posicionamento, velocidade e força, complementando o trabalho de Busquets e permitindo os avanços dos laterais. Com a posse, Xabi aporta algo que raramente vemos no jogo do Barcelona, e torna o da Espanha mais completo: a bola longa. Seus lançamentos são precisos e foram base para muitos e muitos contra ataques letais, que vimos o Real Madrid de Mourinho executar às centenas.

Del Bosque já falou sobre isso. O jogo de Xabi Alonso é tão singular que não há como substituir um jogador de tais características. Xavi poderia ser colocado ali? Poderia. Mas não defende como Alonso e, com a idade pesando nas pernas, precisa estar mais adiantado, mais perto da articulação de ataque. Javi Martínez, que fez um ano imenso no Bayern, poderia substituir Xabi Alonso? Poderia. É o que a imprensa espanhola e eu esperávamos, quando saiu a notícia do corte. Mas a Espanha perderia qualidade na saída de bola.

Pois bem. Os últimos amistosos, treinamentos e entrevistas indicam que Del Bosque usará a Copa das Confederações como um grande laboratório, na ausência de Xabi Alonso. O time voltará à formação de 2008, com apenas um volante defensivo. Agora, será Busquets, em vez de Marcos Senna. E o tal "9", a referência de ataque, voltará a participar do formato titular.

A Espanha simplesmente não tomou gols em todos os jogos de mata-mata nas últimas duas Euros e na Copa passada – foram dez jogos em branco. Se há um momento para arriscar e testar um modelo mais ofensivo, é este. O Bayern já mostrou ao mundo uma evolução do futebol do Barcelona, muitos times europeus já encontraram o antídoto para o jogo de posse de bola do Barça (e da Espanha). Hoje, a Alemanha já tem uma seleção superior, mais jovem e dinâmica. É preciso criar mais volume ofensivo, com infiltrações, diagonais e chegada. E parece que Del Bosque está pronto para dar esse giro no jogo espanhol.

No gol, a dúvida persistirá até o momento da partida contra o Uruguai. Mas parece que Valdés vai ser o titular, aumentando o calvário de Casillas e arrancando um sorrisinho de um certo senhor português que está lá por Londres. Valdés fez uma partida sensacional contra a França, em Paris, em março, uma vitória de 1 a 0 que deixou a Espanha com um pé na Copa-2014, sem necessidade de repescagem. Naquele momento, Casillas estava machucado. Mas, depois de voltar de lesão, não teve minutos para ganhar ritmo no Real Madrid.

Ou seja, temos Casillas há seis meses praticamente sem jogar. E Valdés voando. Me parece justa a escalação do goleiro do Barça. Uma grande oportunidade na carreira (parênteses: acredito que Del Bosque jogue com o fato de esta ser "apenas" a Copa das Confederações, possivelmente Casillas acabará retomando o posto no Mundial do ano que vem).

Na defesa, Arbeloa, Piqué, Sergio Ramos e Alba. Mezzo Real, mezzo Barça. Arbeloa é um lateral que quase não sobe, e Alba precisará conter o ímpeto ofensivo. Senão, Busquets ficará sobrecarregado.

Busquets, Xavi e Iniesta deverão formar um meio de campo idêntico ao do Barça, com Pedro puxando as diagonais. David Silva joga nesse time, e revezará os avanços, infiltrações e o posicionamento pela esquerda com Iniesta. Com a saída de Xabi Alonso, sobra uma vaga, que será preenchida lá na frente por Villa, Torres ou Soldado. Eu aposto em Villa. Mas essa é uma posição de bastante mistério e possivelmente os três jogarão ao longo do torneio – também porque na partida contra o Taiti, no Maracanã, Del Bosque pode escalar até o Manolo del bumbo e o toureiro de Sevilha, se quiser.

Essa é a Espanha que veremos no Brasil. Ao contrário da nossa seleção, esse é um time tão pronto que o técnico pode testar formações e variáveis. Veremos uma Espanha no ataque, mais ofensiva. Atenção neles.

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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