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Lampard se derrete pelo Maracanã e por Felipão: "Não teve culpa no Chelsea"

Julio Gomes

04/06/2013 01h41

Entre 2006 e 2008, Luiz Felipe Scolari era, aos olhos dos ingleses, o melhor técnico do mundo. Os ingleses, assim como nós, brasileiros, são extremamente arrogantes quando o assunto é futebol. Nós ainda ganhamos Copas, e esse é o eterno argumento, o critério único para justificar nossa superioridade indiscutível. A Inglaterra, nem isso. Nós e eles temos uma característica em comum: considerar que bom mesmo é quem nos derruba.

E Felipão derrubou a Inglaterra. Não uma vez, mas três. Na Copa do Mundo de 2002, na Eurocopa de 2004 e na Copa de 2006. Foi "intimado" a virar o comandante do English Team em 2006, mas se recusou a assinar antes da disputa da Copa do Mundo. Com isso, cresceu ainda mais a lenda. Até que chegou a contratação pelo Chelsea.

Felipão não atingiu os objetivos que queria e nunca sabemos se atingiria. O fato é que não sobreviveu a um dos cargos mais complexos do futebol mundial, onde é necessário ser mais do que um técnico. É necessário jogar com a imprensa, mandar recados, interpretar as linhas que são publicadas, saber quem está contra quem no grupo, quem se "posiciona" através de terceiros. O cara te dá um tapinha nas costas, jura lealdade, mas, no dia seguinte, o agente desse mesmo cara vaza para alguns jornalistas informações nada boas para o técnico.

Drogba, Cech e Ballack foram, na cabeça de Scolari, os responsáveis pela queda. John Terry, admirado pelo chefe até hoje, era um dos que vazavam coisas negativas via agentes e pessoas de seu entorno. Via SMSs, para ser mais específico. Não saber onde estão os teus inimigos é um fator fundamental para qualquer derrota. Terry também havia sido pivô da queda de Mourinho, está longe, bem longe de ser santo.

Frank Lampard, o outro líder local do clube, agiu de forma dúbia naquela época. Uma rápida pesquisa na Internet mostra que jornais ingleses publicavam Lampard defendendo e também atacando Felipão. Sei que uma pessoa próxima ao jogador foi quem espalhou que os métodos de treinamento de Felipão estavam "irritando" e "confundindo" os jogadores. Foi uma das polêmicas da época no auge da crise no clube. Mas pode ter saído da cabeça desse responsável pelo "vazamento", pois não havia, de forma consistente, muita coisa negativa vindo do staff de Lampard – como vinham, de fato, de Terry, Ballack e Drogba.

No domingo, depois do jogo, no Maracanã, conversei com Frank Lampard. Ele é um ótimo papo, um jogador sempre muito solícito e com quem havia falado outras vezes no passado. Entre um e outro tema, abordei a época de Felipão no Chelsea. Até para saber, quatro anos e meio depois, o que ele diria, que cara ou careta faria, saber se evitaria o assunto. Fiquei surpreso com a contundência na defesa de Felipão.

"Não consigo te dar uma resposta definitiva sobre por que Phil Scolari (ele chama assim mesmo, Phil Scolari) não deu certo no Chelsea. Tenho muito respeito por ele, foi muito bom para mim pessoalmente. Foi a hora errada de chegar ao clube, um mau momento, mas ele não deveria receber todas as críticas pelos resultados daquele ano. Phil Scolari tentou jogar com um estilo, um estilo de futebol ofensivo e para encantar. E nós não ganhamos os jogos. Foi uma pena. Os jogadores que estávamos naquela época temos responsabilidade total por aquilo que aconteceu. Ele é um treinador fantástico, tenho muito respeito por ele."

Foi o que me disse Lampard no domingo. E me pareceu bastante honesto, para dizer o mínimo. Pode estar sendo político? Pode. Mas não foi a impressão que eu tive.

Não me lembro de outro jogador do Chelsea, pelo menos um dos relevantes, ter falado que "os jogadores tinham responsabilidade total" pela temporada caótica e a saída de Scolari. Lampard era mesmo da "Phil family".

O jogador mais importante da história do Chelsea foi bastante enfático também nos elogios ao Maracanã. Logicamente, nem teria cabimento ele entrar em qualquer debate sobre modernização ou não, elitização ou não, superfaturamento ou não. "A experiência foi demais desde o momento em que pousamos aqui. Você sente que é um lugar que está vivo. O estádio é fantástico, um ambiente mágico. É o Maracanã! É como Wembley, é especial por toda a história, você sente a história estando dentro", relatou Lampard.

"Foi um jogo muito disputado, como se valesse por um torneio. Foi interessante sentir o calor e a umidade, que é pegajosa. É importante para a gente se acostumar a isso se quisermos chegar aqui à final ano que vem."

Lampard se derreteu. Pelo jogo úmido. Pelo Maraca. E por Felipão.

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Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.


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