O ano em que o 7 a 1 teve seu próximo capítulo
Tudo começa com a maior lição de humildade já sofrida pelo futebol brasileiro. Os 7 a 1 do Mineirão, de julho de 2014.
Porque, até ali, poucos haviam percebido o quanto o país do futebol já tinha ficado para trás – e nem mais era país do futebol.
Era fácil encontrar desculpas. Os europeus têm mais dinheiro e compram todo mundo. A justificativa é maravilhosa, ninguém precisava falar de calendário, da pobreza da base, do amadorismo dos dirigentes, do resultadismo, da queda técnica e da falta de conhecimento, prático ou teórico, dos técnicos.
O futebol brasileiro desceu a ladeira por anos, talvez décadas. Poucos se davam conta que, no pós-Pelé, o Brasil havia conquistado tantas Copas quanto a Argentina ou a Itália ou a Alemanha. Que suposto domínio absoluto é esse?
E quando veio a Copa das Confederações de 2013 então? Mamma mia. Goleada da badalada Espanha, que "não era tudo isso".
Mas veio a Copa, a nossa Copa. A humilhação poderia ter sido maior, porque foi por um pelinho que o Brasil não acabou eliminado para o Chile, nas oitavas de final. O Chile de Sampaoli, vejam só.
Chegou o 7 a 1, e finalmente o brasileiro entendeu, ou muitos entenderam, que não somos mais donos do esporte.
Ali, muita gente que tratava o futebol brasileiro de um jeito passou a tratar de outro – eu não estou neste grupo, estou no grupo dos que havia tempos já observava e apontava os problemas e a distância que se abria.
Os anos se passaram e algumas contestações que, antes não aconteciam, passaram a acontecer. Alguns treinadores, antes acima do bem e do mal, passaram a ter decisões questionadas. O desempenho, vejam só, passou a ganhar espaço nos debates, roubando um pouquinho do espaço dos resultados. Os olhos para jogos de ligas europeias passaram a estar mais atentos e respeitosos.
E chegou 2019. O ano de Jorge Jesus e de Jorge Sampaoli.
O ano em que o Brasil voltou, afinal, a ter um time tão bom quanto qualquer outro do mundo, jogando com coragem.
O ano do resgate?
Não sei. Porque o Brasil passou a década de 90 inteira colhendo frutos do que ainda havia sido bem feito nos anos 70 e 80. E o que acontece hoje tem relação direta com 20, 30 anos de má gestão por aqui. Aparecem flores porque o jardim é muito grande, elas são aleatórias e aparecem uma em cada canto.
Um belo jardim? Só teremos de novo quando as coisas forem bem feitas. Ainda não são.
Mas o caminho parece estar melhorando. Alguns clubes já passam a ter uma gestão melhor. E a hora é a dos técnicos estrangeiros, há um clamor pela volta do futebol bem jogado e corajoso, tanto por parte de torcedores quanto imprensa quanto profissionais do futebol.
É por isso que 2019 é o capítulo seguinte ao 7 a 1. É o passo que precisava ser dado. Identificamos que não somos tudo isso em 2014. E identificamos que tem MUITA gente que sabe muito de futebol fora do Brasil. Lá atrás, nos anos 50, 60, o Brasil não tinha problemas com a presença de estrangeiros por aqui.
Agora, até time de segunda divisão está indo atrás de inteligência lá fora. Serão cometidos exageros, sem dúvida. Serão contratados alguns que não são tão bons, porque também não é que é estrangeiro que é bom. Tem que escolher bem. Mas o caminho é irreversível.
2019 é o ano em que o preconceito foi derrubado pela competência.
Quando teremos um estrangeiro no comando técnico da seleção brasileira? Este, este é o capítulo 3 do resgate. Talvez tenhamos de esperar mais 3 ou 4 anos para isso, mas o dia vai chegar.
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