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Julio Gomes

Até que a final da Libertadores em jogo único tem seu valor

Julio Gomes

22/11/2019 05h00

Eu gostava da ideia de final única da Libertadores, quando a Conmebol começou a tratar do tema. Nos últimos meses, ouvi muitos argumentos, a maioria contrários, e fui convencido. Mudei de posição.

Como a maioria, acho que a final única na América do Sul é uma solução ruim. Melhor seria manter a final em duas pernas. Para mim, o que pesa mais é o deslocamento.

E não falo do custo. Porque, no fim, essas finais são para quem tem grana mesmo, sejam únicas ou não. Mas o deslocamento é quase inviável na América do Sul, totalmente o contrário do que ocorre na Europa.

Basta ver o drama absurdo que é ir de ônibus do Rio a Lima, as epopeias que estão sendo narradas por repórteres acompanhando o trajeto junto com torcedores.

No entanto, não costumo, uma vez formada a opinião, fechar os olhos para tudo o que envolve o tema.

E estes dias que precedem a final de Lima mostram algumas coisas interessantes do jogo único.

Primeiro, sem dúvida, o clima épico que se constrói. Afinal, estamos falando de um jogo só. Tudo será decidido ali. São todos os olhos voltados para uma partida, para um lugar, para um duelo, para estes 11 contra aqueles 11.

Não há especulação tática, há um jogo só. Todo mundo tem que dar tudo.

Numa final de ida e volta, a ida não recebe a mesma atenção que estamos vendo. E, dependendo de como for a ida, a volta perde interesse.

Precisamos observar também a escolha de dia e horário, que faz, por exemplo, com que a Europa possa assistir. Não é viável vender o evento para o público europeu com jogos na madrugada. A BBC 2, por exemplo, irá transmitir ao vivo o Flamengo e River, às 20h (horário de Londres) do sábado. Programaço.

Há, também, a questão da invasão de torcidas a uma cidade, a confraternização, o clima. O cara não dorme em casa para ir ao estádio no dia do jogo, o cara está em outro país, vivendo experiências, conhecendo lugares e pessoas, se virando com o portunhol (no caso dos brasileiros). Viajar é a melhor experiência que um ser humano pode vivenciar, intercâmbio cultural.

Há uma comunhão maior entre torcedores, inclusive entre rivais. Esses ambientes de futebol em territórios neutros são legais demais de serem vividos. Já tive a chance de ir a cinco finais de Champions e, mesmo à distância, tenho a impressão de estar ocorrendo o mesmo em Lima.

Se eu pudesse escolher, manteria a final da Libertadores em dois jogos, creio que haja coisas melhores para copiarmos da Champions League. Mas consigo ver algum valor na final única, não é o fim do mundo.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.