Sampaoli, Argentina, a padaria e o sonho
"Ô Sampaoli… tem o telefone do Messi?".
A pergunta é de João, que trabalha em uma padaria/mercadinho na Pompeia, em Santos.
Estou lá apenas escolhendo um chocolate e, claro, giro a cabeça quando ouço o "sobe som". Telefone do Messi?
Penso em Messi, não em Sampaoli. Meu cérebro demora uns cinco segundos para processar. Lá está ele, o técnico do Santos, comprando seu pãozinho e sei lá mais o quê. Algumas horas depois de o Brasil fazer 5 a 0 no Peru, ele deve ter visto pela TV. Um dia antes de a Argentina jogar a vida na Copa América contra o Catar.
Quando penso em Sampaoli, sempre me lembro que exatamente um ano atrás ele estava na Rússia, assim como eu. Mas, digamos, um pouquinho mais pressionado e encrencado que eu.
Hoje, estou cá aproveitando uns dias de folga em Santos. E ele? Bem, nada de folga. Durante a pausa do Brasileiro, está aqui trabalhando, não flanando por aí.
Jorge responde que "sí" para João, sorriso no rosto. Ele tem o telefone de Messi. E João emenda. "Liga para ele, traz ele pro Santos!". Sampaoli ri, pega o troco e diz "hasta luego, hasta luego", para João e para as meninas do caixa.
A cena, claro, é muito rápida.
Eu pergunto. "Ele vem sempre aqui, é?". "Sim, todos os dias! E sempre trata todo mundo super bem, é muito humilde. Muito simples mesmo, uma grande pessoa esse Sam…poli… paoli", diz uma das caixas.
"Chama ele de Jorge! É mais fácil", recomenda João. "Bem que o Messi podia vir para o Santão", fala, enquanto volta aos afazeres da vida real, sonhando alto.
Neste mundo em que cada vez mais os atores do esporte nacional se encerram em condomínios fechados e mandam auxiliares irem buscar o que precisam – de pão a mulheres -, é reconfortante observar este lado humano do argentino (que, aliás, já havia sido retratado nesta ótima reportagem do UOL Esporte).
Um ano atrás, a Argentina precisou de um gol milagroso contra a Nigéria para passar de fase na Rússia. Mas, depois, teve o jogo nas mãos contra a França. Foi quem passou mais perto de eliminar a seleção campeã do mundo. O trabalho dele foi ruim na Argentina, mas havia sido ótimo no Chile, no Sevilla e é ótimo agora no Santos.
Será que a culpa era dele mesmo?
A Argentina segue sem técnico. O Santos, tem um. E dos bons.
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