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Julio Gomes

Sarri, Ceni, Abel, Cuca: entre a convicção e a invenção

Julio Gomes

29/05/2019 23h27

Hoje é dia dos que celebram os diferentes, os que criticam a mesmice.

Na Europa, Maurizio Sarri, o ex-bancário que virou técnico e encantou com o Napoli, conquista seu primeiro título. Com direito a goleada na final da Europa League, Chelsea 4 a 1 no Arsenal.

Na nossa Lampions League (amo esse nome), é Rogério Ceni quem ganha mais um título importante e inédito para o Fortaleza. Campeão do Nordeste.

Enquanto isso, Abel Braga, das antigas, pede demissão no Flamengo. E Cuca, que é mezzo antigo, é mais um técnico a fracassar com o São Paulo na Copa do Brasil.

Abel não soube usar De Arrascaeta. Cuca deixou Pato no banco precisando vencer o Bahia. Convicção ou invenção?

Há treinadores que confundem o comando que lhes é demandado por dirigentes medrosos com invenção. Que preferem exercer a autoridade desta maneira, em vez de exercer a criatividade ou a capacidade tática de fazer peças encaixarem.

Abel e Cuca não inventam nada maravilhoso em termos de futebol ao barrar estrelas. Apenas inventam situações de validação de autoridade.

Abel chegou ao Flamengo ao mesmo tempo que Sampaoli chegava ao Santos, que Diniz chegava ao Fluminense. Abel ganhou um Carioca, mas nunca fez o time jogar bola. São conceitos antigos e de pouca eficiência. Absolutamente nada a ver com o que Felipão faz no Palmeiras. No futebol, não basta mais ser amigão e ganhar elenco.

Cuca, creio, ainda fará um trabalho decente com o São Paulo no Brasileiro – ainda mais por ser a única competição que sobrou no ano. Mas, até agora, não conseguiu construir em cima do pequeno renascimento iniciado por Mancini no Paulista. Pelo contrário. No duelo contra o Bahia, levou uma surra tática de Roger Machado.

Já vimos no Palmeiras e no Santos que Cuca "só trabalha" se conseguir fazer absolutamente tudo do seu jeito. Tira esse, usa aquele, vende o outro, isola aquele.

Alguns treinadores brasileiros ganharam "peso" (títulos) e tornam-se pára-raios de dirigentes incompetentes. O outro lado da moeda é que tudo precisa acontecer do jeito que eles querem. Convicção ou autoridade?

Sarri e Ceni também querem tudo a sua maneira, também têm dificuldades com algumas situações que fogem do idealizado. Mas pelo menos são treinadores inovadores e antenados com tudo de bom que está acontecendo no futebol mundial. É outro tipo de convicção, é a convicção futebolística. As "invenções" ocorrem em nome de uma ideia, não de um status.

Mais um título de Ceni e mais um fracasso do São Paulo no mesmo dia. É muito para o torcedor tricolor aguentar.

Nesta quarta-feira, Sarri e Ceni conseguiram unir ideia a resultado, o que é sempre o melhor cenário. Ideias, no entanto, ainda sobrevivem sem resultados. Já no mundo da falta de ideias, sobra apenas o resultado. Se ele não vem, sobra apenas… o nada.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.