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Julio Gomes

Feito da Juventus na Itália vem com gosto amargo

Julio Gomes

21/04/2019 07h00

A Juventus é campeã da Itália pela oitava vez seguida. Este é o resultado prático de um calcio em que grandes forças do país foram vendidas para investidores duvidosos (Inter e Milan) e perderam espaço no futebol europeu. O Napoli renasceu, a Roma continua em seu devido lugar, ninguém consegue fazer frente à Juve.

Mas, apesar de o oitavo título, chamado na Itália de ScudOtto (uma brincadeira com as palavras Scudetto e Otto – oito, em italiano), ter sido um dos mais fáceis de todos, chegando com cinco rodadas de antecipação, ele foi também um dos mais amargos.

Após o escândalo de manipulação de resultados, da passagem pela Série B, a humilhação, veio 2012, com Conte, o ano em que a Juve conseguiu quebrar o domínio da Inter e ganhar o primeiro título desta série atual. Para se ter uma ideia, somente os zagueiros Chiellini e Barzagli estão no clube desde então.

Nas últimas quatro temporadas, a Juve havia conquistado título nacional e Coppa Itália, fazendo a "doppietta". E duas vezes, em 2015 e 2017, chegou à final da Champions League. Foram quatro anos realmente mágicos. Para este ano, perdeu Buffon, é verdade, mas trouxe Cristiano Ronaldo.

Ou seja, em teoria, chegou ao clube a diferença entre ser vice da Champions, coisa que nenhum outro clube "conseguiu" tantas vezes, e ser campeã.

Mas Cristiano não foi capaz de elevar os resultados da Juventus. Veio mais um título italiano, mas vieram as eliminações precoces na Coppa Itália e, principalmente, nas quartas da Champions, diante do Ajax, em casa.

É claro que um Scudetto é sempre coisa para se festejar e hoje é dia de o torcedor juventino ter um feliz almoço de Páscoa com a família. Mas o gosto amargo da eliminação para o Ajax não vai sair da boca tão cedo, nem com vinho ou uma bela pasta.

Cristiano Ronaldo promete ficar no clube, e a Juventus logicamente abrirá a temporada que vem do mesmo jeito que essa. Favorita a tudo. Mas há algumas posições em que o clube precisa melhorar. No gol, nas laterais, no setor de criação. Eu diria que até no banco de reservas há bastante margem para melhora, mas parece que Allegri continua.

Se considerarmos as grandes ligas europeias, a Juventus consegue um feito que nenhum outro clube conseguiu, superando o heptacampeonato do Lyon, de Juninho, na França. Olhando para as Ligas medianas, a sequência atual mais notável é a do Celtic, na Escócia, muito perto do oitavo título seguido, o que o deixaria a um dos nove seguidos, que tanto Celtic quanto Rangers conseguiram no passado.

As maiores séries históricas, de 14 títulos, pertencem a Lincoln Red Imps (Gibraltar) e Skonto Riga (Letônia). Logo depois, com 13 títulos seguidos, vem o Rosenborg, campeão da Noruega entre 1992 e 2004. E depois, com 11 títulos, vem o Dínamo Zagreb, da Croácia. Olympiakos e Basel, que vinham com sequências incríveis, perderam desde o ano passado a hegemonia na Grécia e na Suíça.

Será que a Juventus supera essa turma? Difícil, mas não impossível.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.