Avallone forjou milhares de jornalistas e amantes do futebol
Eu sempre digo que há certas coisas que forjam nosso caráter, nossos gostos, nosso destino. Não posso falar por muitas profissões, posso falar pelo jornalismo. E com mais propriedade ainda do jornalismo esportivo.
Eu farei 40 anos neste ano. Sou de 1979. Quem é mais ou menos dessa época, para frente ou para trás, e acabou no jornalismo esportivo foi forjado por um grupo de pessoas.
Quem perdia um Cartão Verde de segunda à noite, com Trajano, Armando e Juca? Depois Flávio Prado entrou no lugar do Armando Nogueira. Quem perdia aqueles domingos gigantes na Bandeirantes, o Show do Esporte, com Luciano do Valle, Elia Jr, Álvaro José, Silvio Luiz, Silvio Lancelotti….? Quem não escutava futebol na Jovem Pan, com Milton Neves, Silvério, Orlando Duarte? E quem perdia a Mesa Redonda da Gazeta? Com Avallone, Chico Lang, Mauro Beting, Márcio Bernardes, Fernando Solera, Wanderley Nogueira…?
Roberto Avallone se foi hoje.
Para muitos, uma figura caricata. Para mim, um jornalista que fez parte da minha vida à distância. Que, de alguma forma, ajudou a construir o Julio que aqui hoje escreve e fala sobre o que ama. E ao mesmo tempo em que eu mesmo fazia piada com seu jeito de falar sobre o Palmeiras, eu via os prêmios que ele havia recebido quando eu ainda usava fraldas. Eu respeito muito tudo isso.
Com sua maneira combativa e engraçada de comandar as mesas redondas, inventou um tipo de jornalismo.
Com a TV a cabo e a Internet, não existem mais programas como os de antes. Não estou dizendo que hoje sejam melhores ou piores, apenas não têm o mesmo alcance proporcional que os de antigamente tinham (por falta de outras opções). Não existem mais coisas que "todo mundo vê". Está tudo mais difuso.
Neste cenário, Avallone e tantos outros foram perdendo relevância. Eu confesso que nem sei o que ele andava fazendo nos últimos meses, à parte ser blogueiro aqui no UOL, como eu. Assim como muitos não sabem o que eu ando fazendo. Às vezes nem eu mesmo sei.
Só sei que é triste ver o tempo passar assim. Um dia, se vai um. Outro dia, outro. Outro dia, aquele outro. E parece que se vai um pouco da gente também. E tocamos o barco, como dizia Boechat. O Brasil de hoje parecer ser um país que só chama coisa ruim.
Nunca encontrei Roberto Avallone pessoalmente. Mas nem precisava, era como se eu já o conhecesse desde criança.
O jornalismo esportivo fica mais pobre. Vá em paz.
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