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Julio Gomes

O problema não são os Estaduais, é o que fazem com eles

Julio Gomes

18/01/2019 13h46

Vão começar os Estaduais e lá vamos nós passar quatro meses ouvindo que os Estaduais não prestam, que não servem pra ninguém, que ninguém quer mais saber.

Eu concordo, discordando.

Os Estaduais não são problema. São solução. São solução para manter cidades inteiras conectadas com o futebol. São solução para o processo de garimpar talentos. São solução para o fomento do esporte e a criação de empregos relacionados ao esporte. São solução até mesmo para os clubes grandões não ficarem anos e anos e anos sem darem alegrias para suas torcidas.

Perguntem ao palmeirense o que ele acha do Paulista de 93. Chamem de "paulistinha". Perguntem ao corintiano o que ele sentiu em 1977. Chamem de "paulistinha". Perguntem ao botafoguense o que foi aquele gol de Maurício. Chamem de "carioquinha". Perguntem ao flamenguista se ele se matou de gritar naquela falta de Pet ou se ele não gritou tanto por ser "carioquinha".

Alguns dirão que os tempos eram outros. Sim, os tempos eram outros. Talvez até melhores. Em termos de qualidade do futebol doméstico, sem dúvida alguma os tempos eram melhores.

O problema com os Estaduais é que eles se transformaram em estorvo, sim, por dois motivos simples: calendário nacional horroroso e regulamentos mirabolantes, que não atendem o interesse regional e esportivo e, sim, negociatas entre dirigentes de clubes e federações, talvez até prefeitos.

Façam regulamentos dinâmicos e de fácil compreensão. Que atraiam o interesse. Que deem aos grandes a chance de perder, não só de ganhar – ou seja, a necessidade de jogar. Que deem aos pequenos a chance de enfrentar grandes em jogos que realmente tenham valor. Façam um calendário em que os Estaduais se espalhem ao longo do ano e cheguem ao clímax no fim do ano.

Façam um calendário em que os Estaduais ocupem uma época do ano em que apenas um punhado de clubes grandões estejam jogando outras coisas, e não quando todo mundo esteja preocupado com outras coisas.

Enfim, há mil e uma maneiras de o Brasil não atirar na lata do lixo, como se está fazendo, um dos fatores históricos de construção do seu futebol.

É necessário uma atualização? Sim. Quem sabe regionalização. A Copa do Nordeste, englobando mais gente, pode perfeitamente substituir todos os estaduais nordestinos, por exemplo. O Paulista vive bem como Paulista. Rio e Minas poderiam estar juntos. Enfim.

Os Estaduais não são um lixo. Eles "estão" um lixo. Hoje, eles são problema para todo mundo. Desse jeito, não servem pra grandes nem pequenos nem TV nem patrocinadores. Ainda há tempo de arrumar. Só que não por quem "cuida" deles há tantos anos.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.