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Julio Gomes

Flamengo fica mais forte, mas ainda precisa de muito mais

Julio Gomes

09/01/2019 08h50

Chegam De Arrascaeta e Gabigol. Um tem 24 anos, o outro, 22. Ambos talentosos. Não dá para negar que o Flamengo é mais forte com os dois do que sem os dois.

Ambos são jogadores de muita velocidade, letais em um futebol de transição rápida, ambos bons finalizadores de jogadas. Só a chegada deles já nos dá a indicação de que o Flamengo-2019 será um time de mais velocidade e menos nhém nhém nhém.

A posse de bola, ainda mais uma posse estática, já está virando coisa do passado no futebol. Tudo é muito dinâmico.

Mas De Arracaeta e Gabigol, por mais que tragam impacto e que sejam jogadores para muitos anos, não resolvem os pepinos principais do Flamengo, principalmente se compararmos com o Palmeiras. Porque é isso, não adianta olhar para o Flamengo no contexto geral do futebol brasileiro. É preciso olhar no contexto dessa disputa específica.

Flamengo e Palmeiras são os mais ricos, são os donos do dinheiro, são os clubes de elenco mais farto e que começam o ano, de novo, como favoritos a tudo. Logo, muita coisa pode acontecer. Há outros times promissores, como São Paulo e Corinthians, e há outros que mantém certa qualidade, como Grêmio, Inter, Cruzeiro e Atlético-MG.

Só o fato de o Fla ter tirado de um adversário direto, o Cruzeiro, um jogador como o uruguaio, já mostra esse domínio de mercado.

Pois bem, se nos atermos à comparação Flamengo-Palmeiras, é fácil notar que o setor defensivo flamenguista é muito inferior (zagueiros/laterais/volantes). Contratar Dedé teria sido mais importante do que De Arrascaeta e Gabigol. Rodrigo Caio é uma incógnita.

Tem mais. Gabigol é um exemplar perfeito da geração de mimadinhos que acham que são mais do que são e que estão acima do bem e do mal. Fechou as portas na Europa por isso, não por falta de talento. Para o Brasil, no entanto, é bom o suficiente e bajulado o suficiente para funcionar.

Com Cuca, entrou na linha e ajudou o Santos. Abel tem o perfil parecido, de treinador mais velho, com história e que será respeitado. Essa relação Abel-Gabriel precisa dar certo para o Flamengo, senão terá sido um investimento caro e de pouco resultado.

Parece faltam a Abel a figura (ou as figuras) de líder do elenco. Aquilo que eram Deco, Fred e outros no Fluminense campeão. Aquilo que são Felipe Melo, Prass e outros no Palmeiras de Felipão. O Flamengo está investindo no talento, mas construção de elenco vencedor passa por mais do que isso.

Enfim, a torcida do Flamengo deve e pode estar feliz. Mas há muitos mais problemas para serem atacados. Senão, vai continuar só no cheirinho.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.