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Julio Gomes

Real Madrid vive o caos a uma semana do clássico

Julio Gomes

20/10/2018 10h36

É necessário voltar quase 10 anos no tempo. Até maio de 2009, para encontrar uma sequência de cinco derrotas do Real Madrid.

Foram as cinco rodadas finais da temporada 2008/2009. Então treinado por Juande Ramos, o Real defendia uma invencibilidade de 18 partidas e recebia o Barcelona no estádio Santiago Bernabéu. Estava quatro pontos atrás e precisava vencer para por fogo na disputa pelo título. Levou de 6 a 2, no famoso primeiro jogo em que Guardiola usou Messi como "falso 9". Era o primeiro ano de Guardiola no Barça – com 100% de aproveitamento de títulos.

Depois dos 6 a 2, o Real Madrid baixou a guarda e perdeu seus últimos quatro jogos no campeonato (para Valencia, Villarreal, Mallorca e Osasuna). Cinco derrotas seguidas.

Neste sábado, o Real Madrid voltou a protagonizar um papelão. Diante de sua torcida, perdeu por 2 a 1 para o minúsculo Levante. Pela primeira vez desde 2009, o time fica cinco jogos sem vitória. Perdeu para Sevilla, empatou o dérbi com o Atlético e depois foi derrotado por Alavés (!) e Levante (!!) na Liga espanhola. No meio desses jogos, perdeu para o CSKA Moscou pela Champions League.

As três derrotas seguidas ocorrem pela primeira vez desde a já citada sequência de 2009.

Pelo menos, quando Marcelo marcou hoje contra o Levante, já no fim do segundo tempo, o clube encerrou em 481 minutos o período de seca. Foram 8 horas de futebol sem um gol do Real Madrid. Surreal. Mas não atingiu o recorde negativo, de 494 minutos sem um golzinho, estabelecido em 1985.

O Real sente falta de Cristiano Ronaldo? Claro que sim.

Quantos jogos ruins o clube teve salvos por Cristiano em vários momentos das últimas temporadas? O Real da temporada passada já dava sinais de decadência, mas ganhou o tri europeu na marra, sabe-se lá como.

Porém, o buraco é mais embaixo. Junto com Cristiano, saiu Zidane e sua capacidade de manter o clube pacificado. Ninguém desafia a palavra de um dos maiores nomes da história do Madrid. Unir o vestiário é sempre o primeiro passo para conseguir vitórias com elencos multiestelares. Depois vem tática, técnica, etc.

O Real Madrid vive aquele período do quais muitos grandes clubes já foram vítima. Transição mal feita. Chegou técnico novo, com jogadores velhos. Um grupo que já ganhou de tudo e não está muito a fim de ouvir blá blá blá.

É muito possível que o Real Madrid quebre a série negativa na terça-feira, pela Champions, contra o Viktoria Pilsen, da República Tcheca. E domingo que vem é clássico no Camp Nou, contra o Barcelona.

Muitos técnicos já caíram após chegarem ao clássico na corda bamba e fracassarem contra o Barcelona. Rafael Benítez, Luxemburgo, a lista é grande. Schuster caiu em 2008 uma semana antes do clássico, dando lugar justamente a Juande Ramos.

Será que Julen Lopetegui escapa? Será que ele chega ao clássico?

É um técnico que gosta de rodar jogadores, não define um time principal, não tem a confiança de ninguém. Não é o time de Bale, não é o time de Benzema, não é o time de Courtois, não é o time de Modric-Kroos. O Real Madrid de Lopetegui não tem cara.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.