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Julio Gomes

Ao se descolar de Ronaldinho/Bolsonaro, Barcelona respeita própria história

Julio Gomes

16/10/2018 10h44

Em 6 de agosto de 1936, Josep Sunyol i Garriga foi assassinado por um soldado de Franco na Serra de Guadarrama.

Eram os dias iniciais da Guerra Civil espanhola, que precedeu a Segunda Guerra Mundial. As forças nazistas alemãs apoiaram com tudo o exército franquista, que venceu a guerra e impôs na Espanha uma ditadura sanguinária que se estendeu até a década de 70.

Sunyol era membro da "Esquerda Republicana Catalã", um partido de esquerda que existe até hoje. E era, também, presidente do Fútbol Club Barcelona.

O clube, historicamente, sempre esteve do lado da democracia, da liberdade e da diversidade. Foi constantemente perseguido e atacado pela ditadura militar de direita durante os anos de chumbo na Espanha.

Quando Ronaldinho e Rivaldo se posicionam politicamente ao lado de Jair Bolsonaro, um político/militar que passou 30 anos de vida pública destilando ódio, racismo, machismo e homofobia (mas agora posa de bom moço e fala que não falou tudo o que falou), eles automaticamente viram as costas para a história do Barcelona.

É natural, pois, que o clube "se desmarque" de Ronaldinho, como noticiado hoje pelo diário catalão "Sport". Um embaixador do clube precisa conhecer as origens e a história do próprio. A presença dele será diminuída em atos institucionais a partir do ato de apoio a Bolsonaro.

Existe a política e o debate político. Vários dirigentes do Barcelona são ligados à direita catalã, inclusive são políticos. O clube abraça a diversidade de opiniões e posicionamentos.

Mas, antes da política, há valores, conceitos de vida.

Notícia estranha mesmo seria se o Barcelona fechasse os olhos para o que estão fazendo vários nomes importantes de sua história. Uma pena que o clube apenas solte essa informação para a imprensa, mas sem se pronunciar oficialmente. Antes pouco, do que nada. Algum livro de história precisa sobreviver depois desses furacões todos.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.