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Julio Gomes

Como alguém pode desprezar a bola de Diego Costa?

Julio Gomes

15/08/2018 18h35

É natural que o caráter de Diego Costa seja contestado. Alguém pode não aceitar a atitude que o sergipano de Lagarto tem em campo. É, de fato, um jogador duro, provocador, muitas vezes sujo. Mas não é normal que o futebol dele seja tão contestado por tanta gente.

Diego Costa é uma peça cada vez mais rara – portanto, valiosa – no futebol de hoje. Um "9 de garantias", como eles gostam de falar na Espanha. Não faz só gol, é muito mais do que isso.

Contra o Real Madrid, nesta quarta, Diego Costa foi o grande nome da virada do Atlético de Madrid, campeão da Supercopa da Europa.

Diego Costa abriu o placar com um golaço sem ângulo e, na reta final do jogo, empatou a partida – o Real havia virado o marcador. Assim como nas finais de Champions de 2014 e 2016, Real e Atlético iam para a prorrogação.

Desta vez, no entanto, a história foi diferente. Se, em 14 (com Diego machucado), o Real chegou à décima e, em 16, à décima-primeira, primeiro na prorrogação e depois nos pênaltis, agora o Atlético foi quem se deu bem.

O terceiro gol nasce de uma roubada de bola de Thomas (bobeada de Varane, francês campeão do mundo) e uma ótima tabela com Diego Costa antes do maravilhoso sem pulo de Saúl. O quarto gol também passa por ótimo passe de Diego Costa antes do chute de Koke.

Ou seja, o hispano-sergipano fez dois e participou de outros dois. Não é só goleador, é brigador, preparador de jogadas, abridor de espaço, garçom. Além, claro, de levar os adversários à loucura com seu estilo agressivo em campo. Ele tira os caras do sério.

É inacreditável que Antonio Conte tenha preterido um jogador como esses no Chelsea, dispensado por SMS.

E talvez esse jeito de ser não combine mesmo com a "boazinha" seleção espanhola – reportagem do El País apontou, após a Copa, que o grupo de jogadores estava rachado em função da preferência de Lopetegui e, depois, Hierro, por Diego Costa.

Mas, se tem um time em que o estilo de Diego Costa é "match" perfeito, esse time é o Atlético de Simeone.

Ele flerta com expulsão o tempo todo, mas quase nunca vê o vermelho. É 100% tensão, 100% intensidade. É o Simeone 2.0 com gols, potência e bem mais talento.

O título da Supercopa não representa, nem de perto, o mesmo que ganhar uma Champions. Mas o torcedor do Atlético começa a temporada de alma lavada, metendo 4 no maior rival e levantando mais uma taça, o que já não é raridade para o clube.

Além de ter mantido Griezmann, o MVP da final da Copa do Mundo, o Atlético reforçou demais o elenco, com gente como Lemar, Rodri, Arias, Gelson Martins, Kalinic.

E, claro, "acharam" Lucas Hernández, que era reserva, na Copa (Filipe Luís vai ficar bastante tempo no banco). O ótimo Saúl está mais experiente, Corrêa também. Diego Costa e Vitolo estão lá desde o início da temporada. É elenco para ser campeão de qualquer coisa.

Se conseguir manter o embalo inicial de temporada e não deixar pontos bobos pelo caminho, o Atlético é candidatíssimo a desafiar o Barcelona no Espanhol. Mais até do que o Real Madrid. Aliás, a final da Champions, ano que vem, é no estádio do Atleti…

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.