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Julio Gomes

Diário da Copa: Adeus, Lenin

Julio Gomes

15/07/2018 04h00

A Copa acaba hoje na Rússia. França e Croácia disputam a grande final em Moscou.

Se a França ganhar, falaremos muito de Mbappé, Pogba, Griezmann, Kanté, ficaremos aliviados porque a ordem das coisas no futebol não terá sido assim tão corrompida – ganhará uma das super favoritas antes do início da competição.

Se a Croácia vencer, falaremos muito de Modric, Rakitic e de como o futebol mudou e está tão equilibrado que uma seleção considerada média provou que se pode ser campeã do mundo, contrariando aqueles que só olham para história e peso de camisa para fazer análises.

E, depois de amanhã, já estaremos falando de Corinthians, Flamengo, Brasileirão e tudo isso ficará para trás.

Mas não aqui na Rússia. Quando a final acabar e todos nós sairmos do estádio, estaremos sendo atentamente observados pela enorme estátua de Lenin, que fica logo na entrada do estádio Lujniki.

Lenin é um mito. Onipresente, é o grande idealizador da Revolução de 1917 e, talvez por ter morrido cedo, sem muito tempo para fazer bobagens, ganhou status de santo. Diferente de Stalin, por exemplo, que matou e expurgou milhares – sua figura fica muito mais escondida.

No meio da Praça Vermelha, com horários reduzidos para visitação e gigantescas filas, está o mausoléu com o corpo embalsamado de Lenin. Uma imagem impressionante. Em absolutamente todas as cidades por onde passei, vi Lenin. Em Samara, uma estátua pequena, porque lá ele ainda era pequeno, um estudante. No Lujniki, uma estátua enorme. Por onde vamos, ele está olhando.

Lenin deve ter aprovado a Copa organizada por seus compatriotas. Não se sabe onde Putin enfiou os opositores. E nem o que será feito com alguns estádios. Mas o fato é que foi um Mundial sem protestos, brigas, atentados, tragédias, gafes ou reclamações. Tudo ocorreu bem.

E os russos se autodescobriram. Nem eles sabiam que seriam capazes de ser tão amigáveis e bons anfitriões. Eu já vi esse filme na Alemanha, 12 anos atrás.

Por falar em Alemanha e Lenin, o titulo deste artigo remete a um filme que todas as pessoas precisam ver. Ele trata de transformação, criatividade e amor. Três coisas essenciais para o mundo. A quarta é o futebol.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.