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Julio Gomes

Diário da Copa: Silêncio e festa

Julio Gomes

02/07/2018 06h28

Rússia x Croácia nas quartas de final da Copa do Mundo. Quem diria! No meu Bolão, estavam Espanha x Dinamarca, que era um pulo do gato. Vejam só que malditos pênaltis.

Mas a Espanha não iria longe sem técnico. E a Dinamarca não tem muito mais do que um goleiro. No fim das contas, é sempre bacana ter o time da casa indo longe, porque isso impulsiona o interesse pelo torneio.

Mas como eles vivem esse interesse?

Foi uma experiência curiosa assistir ao jogo da Rússia no domingão, em Kazan. Já percebi que aqui as pessoas estão vendo os jogos em casa ou na Fan Fest. Para lá que eu fui.

E o que mais me chamou a atenção? O silêncio. Não havia reações durante a partida. Xingamentos, gritos de susto, aquele "uuuuuuuuu", gritos de "Rússia, Rússia, Rússia"… nada! Parecia que aquelas dezenas de milhares de pessoas estavam vendo um filme ou uma ópera em um cinema a céu aberto.

Claro que, no momento do pênalti e do gol de empate da Rússia, houve comemoração. No segundo tempo, o clima mudou um pouquinho. Talvez os russos tenham ido lá certos de uma derrota. E, conforme o jogo avançou, a esperança virou animação.

O fato é que eu tinha um avião para pegar e precisei deixar a Fan Fest ao final dos 90 minutos. Fui de volta ao centro de Kazan. E nada de um bar, uma TV. Nada. Nada. E nada. Eu percebia algumas pessoas com o celular em mãos, seguindo a vida delas e vendo o jogo por ali. Mas, se alguém não soubesse que o pais anfitrião da Copa estava jogando uma prorrogação naquele exato momento, continuaria sem saber.

Resolvo ir ao hotel e assistir aos pênaltis de lá. Quando chego, as TVs da recepção estão passando outra coisa. E apenas um segurança segura seu celular, quietinho, no canto, assistindo. Vemos juntos. Ele solta um grito quando a Rússia se classifica. Estendo o braço, mão aberta, nos cumprimentamos. E ele guarda o celular no bolso. Tudo volta ao normal.

Nas ruas, aí sim, começam a soar as buzinas. As pessoas  aparecem com bandeira nas mãos. Começa a festa, a celebração, em todas as cidades. Do jeito deles. Durante o jogo, silêncio. Depois do jogo, festa. Assim segue a Rússia.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.