Topo

Julio Gomes

Espanha tem ótimo caminho, mas precisa resgatar veia vencedora

Julio Gomes

29/06/2018 07h40

Dez anos atrás, Fernando Torres marcava o que considero o gol mais importante da história do futebol espanhol. O gol do título da Euro-2008 contra a Alemanha, em Viena. Mas e o Iniesta, dois anos depois? Eu adoro especular com "o que seria". E tenho muitas dúvidas se a Espanha seria finalista e campeã da Copa do Mundo da África, não tivesse rompido a barreira psicológica na Euro.

A Espanha tinha dificuldades em acreditar nela mesma. Luis Aragonés, então técnico em 2008, apostou em uma ideia de jogo, deixou de fora alguns nomes pesados (tipo Raúl), encarou o Real Madrid, a imprensa, o país inteiro, e ganhou a Euro. A vitória contra a Itália nas quartas, nos pênaltis, já havia sido um marco. Depois, vieram os 3 a 0 contra a Rússia na semi. E, por fim, a vitória na final com o gol de Torres.

A partir daí, a Espanha ganhou alma vencedora. Ganhou outra Euro, ganhou a Copa e ganhou, essencialmente, respeito e autoconfiança.

Agora, precisa resgatar essa alma vencedora. Sem técnico e, por enquanto, sem bom futebol nesta Copa, a Espanha vai precisar ganhar os jogos "na marra", que é o que fazem os vencedores, para fazer valer seu favoritismo teórico e chegar à decisão.

Se é verdade que gente como Ramos, Piqué, Busquets e Iniesta sabe muito bem como ganhar coisas, outros, mais jovens, parecem duvidar. A começar pelo goleiro.

A transição teve percalços, como bem sabemos porque vimos ao vivo, em nossos campos, em 2013 e 2014 (assim como a transição alemã vive seu percalço máximo agora). Mas a Espanha conseguiu virar a página, mantendo ainda uma espinha dorsal veterana. É ela que precisa falar alto agora, para arrastar junto o monte de talento jovem ao lado. Dar o soco na mesa.

A chave espanhola rumo à final tem uma espécie de mini Euro. São sete seleções europeias mais a Colômbia, que possivelmente jogará sem James Rodríguez, seu principal jogador – o que não é pouco e diminui consideravelmente as chances dos sul-americanos ganhar dois jogos rumo à semi.

Nas oitavas, a Espanha pega a dona da casa, a Rússia, o time de pior ranking e que foi exposto pelo Uruguai na primeira fase. Nas quartas, Croácia ou Dinamarca. Na semi, Inglaterra, Suíça, Suécia ou Colômbia.

Não seria fácil um jogo contra qualquer uma destas seleções. Mas a Espanha vem dominando todos os rivais europeus que enfrenta há um bom tempo. E é o time mais completo e talentoso desta chave. Se fossem partidas de eliminatórias europeias, Espanha contra qualquer um desses, qual seria a previsão? Pois é.

Mas, claro, é Copa do Mundo. E é uma Copa do Mundo que já nos mostrou que qualquer um pode ganhar de qualquer um. Será campeão quem encaixar quatro bons jogos – ou pelo menos uns dois, contando com um pouco de sorte em outros dois.

De um lado da chave, há quatro campeões do mundo, o atual campeão europeu, o time sensação da Copa e ainda um México melhor do que parece. Do outro, tem a Espanha. A bola está com ela.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.