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Julio Gomes

Os conflitos existenciais de Osorio

Julio Gomes

28/06/2018 10h22

Nós já conhecemos Juan Carlos Osorio. Quando trabalhava no São Paulo, alguns entendidos ridicularizavam seu bilhetinhos, canetas coloridas, até mesmo a tentativa de falar português, o que o levava a dar entrevistas falando de forma leeeenta, devagar, quase parando. Criticavam as mudanças constantes no time. É aquela velha queda de braço entre o velho e o novo.

No México, ele também é criticado. Bem, não poderia não ser depois de levar 7 do Chile em uma Copa América.

Quem contrata Osorio deve saber qual é o pacote. Este é um daqueles treinadores que entendem o futebol de uma certa maneira e não gostam de jogar de outra só em nome do resultado. Ao mesmo tempo, não se acanham em fazer mudanças constantes (de nomes, não de estilo) para buscar o melhor rendimento.

Algumas críticas são válidas, outras são picuinha, perseguição.

Depois de perder da Suécia, levando três gols e precisando da sorte – a improvável vitória coreana sobre a Alemanha – para passar de fase, Osorio deixou exposto, para todo mundo ver, seu dilema. O conflito existencial de um treinador de futebol que quer ganhar, lógico que quer, mas que não quer abrir mão de conceitos que ele considera inegociáveis.

Não bastava mudar nomes em um jogo como este. Era preciso mexer no jeito de jogar do time.

Contra a Suécia, os conflitos ficaram claros. Por um lado, o querer jogar bem e manter o que estava funcionando. Por outro, a necessidade de mudar a cada jogo, em função do adversário. "Meu pecado foi ser um purista", disse Osorio. "Achando que, com essa ideia de jogo, podemos competir e jogar todo fim de semana. A derrota me mostrou muitas lições, um dia vou acertar. Um dia vou encontrar o modo para podermos jogar bom futebol e vencer times que jogam como a Suécia".

Osorio, de forma bastante humilde, até, reconhece que ainda não encontrou seu próprio equilíbrio.

Quando um jornalista perguntou se ele preferia perder jogando bem ou ganhar de outra forma, a dúvida ficou estampada na testa do treinador. Ele não tinha resposta pronta.

"Fantastic question… let me think".

Pergunta fantástica, preciso pensar. Pensou. Demorou alguns segundos. E respondeu que prefere perder, considerando que o time se classificou mesmo assim. Mas e se tivesse sido eliminado?

Ser eliminado em oitavas de final parece ser uma sina para os mexicanos – aconteceu nas últimas seis Copas, para rivais mais ou menos "pesados".

Este é um time de talento, de bom futebol e que estava, talvez, confiante além da conta após as duas primeiras vitórias. É um time que se mostrou, também, muito abalado ao ver as coisas dando errado contra a Suécia.

Tendemos a achar, no Brasil, que não tem como o México eliminar o Brasil de uma Copa do Mundo. Mas é bom ter muita atenção. Até porque, contra o Brasil, os dilemas de Osorio ficam bastante diminuídos. Contra uma seleção que também gosta de tratar bem a bola e que não pratica o jogo direto, os mexicanos se sentirão confortáveis em campo.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.